Júlia Fernandes entrevista Daniela Vargas - uma jornalista que sorri com o olhar.

Conheci a Daniela Vargas em 2015. Estávamos na mesma turma de um grupo de estudos sobre técnicas de jornalismo de dados. À época, ela usou a sua própria história para nos brindar com a proposta de pesquisa da nossa turma. Contou sobre o fato de ter perdido a sua mãe para a leucemia e sugeriu que a gente encontrasse os dados sobre a doação de medula no Brasil e no mundo. Sua forma de lidar com a vida e de sorrir com os olhos me cativou. Uma habilidade que ressalta com o atual uso das máscaras e nas coberturas jornalísticas que faz.

Arquivo pessoal: o escritório de Daniela é o local de gravação do quadro ‘Giro pelo Mundo’.

Sobre ela:

Daniela Vargas nasceu em Bambuí (MG) e se mudou para Belo Horizonte (MG) para estudar. Formou-se em jornalismo em 1996 e desde então trabalha na área. Já passou pelo rádio, mas foi na televisão que essa mineira ‘firmou os pés’ e nunca mais saiu. Começou na Rede Minas e fez da TV Alterosa (Diários Associados), por onde trabalhou por 12 anos, um espaço de aprendizado contínuo. Por lá fez apuração, produção e reportagem.

O marco mais importante dessa passagem para a jornalista foi a criação, produção e apresentação da ‘Agenda Cultural’ do ‘Jornal da Alterosa’. Por meio do quadro recebeu artistas como Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Milton Nascimento, Nando Reis, Paralamas do Sucesso, Daniel, Bezerra da Silva, Toni Ramos, Marília Gabriela, Gal Costa, Maria Bethânia, Grupo Galpão, Skank, Jota Quest, Vander Lee entre outros.

O currículo de Daniela é tão vasto que inclui ainda o trabalho que exerce nas coberturas de eventos, como mestre de cerimônias, repórter do Canal Brasil (Globosat) em Minas Gerais, apresentadora oficial da TV Mostra, veículos oficiais das mostras mineiras de cinema de Tiradentes, Ouro Preto e Belo Horizonte. E uma experiência como essa carrega consigo a bagagem necessária para estar no front de notícias e conteúdos face à Covid-19, assumindo um novo desafio na Rede Minas.

Com vocês, Daniela Vargas:

Júlia Fernandes: Em quais frentes você atua?

Daniela Vargas: Neste ano fui convidada para ser repórter do programa ‘Agenda’, na Rede Minas, do qual já participei antes de trabalhar na TV Alterosa. Comecei no final de fevereiro e em menos de um mês a pandemia do novo coronavírus mudou tudo e fui convocada a co-apresentar o programa ‘Brasil das Gerais’, junto com a jornalista Patrícia Pinho. Além disso, também criei um quadro internacional que vai ao ar toda quinta-feira no ‘Jornal Minas’, chamado ‘Giro Pelo Mundo’.

JF: Como é o seu ambiente de trabalho atual?

DV: Desde o dia 20 de março, trabalho em casa para dois programas da Rede Minas. Na última semana de trabalho presencial, apresentei o programa ‘Brasil das Gerais’ ao vivo no estúdio já abordando temáticas ligadas à pandemia. Sugeri tentar depoimentos de jornalistas que estão em outros países para contarem como estava a pandemia onde vivem. Com o risco das contaminações, a direção da Rede Minas, mandou a maioria dos servidores para casa em regime de teletrabalho.

E, por consequência disso, fui estimulada pela Marisa Guimarães, diretora de Programação e Conteúdo do canal, a criar um quadro internacional e apresentá-lo uma vez por semana no Jornal Minas primeira edição. Aí surgiu o quadro ‘Giro Pelo Mundo’, que vai ao ar toda quinta-feira, às 13 horas, com colaboradores brasileiros em todos os continentes repercutindo fatos ligados à pandemia da Covid-19.

Desde junho o ‘Brasil das Gerais’ passou a ser apresentado de forma remota e estou tendo a honra de fazer as entrevistas, que antes eram ao vivo e ancoravam todo o programa, de dentro da minha casa. O quarto do meu irmão que está fora se transformou em ‘meu estúdio’. Eu me maquio, uso na maioria das vezes o meu próprio figurino, e gravo junto com minha diretora, a Marina Mendes, cada uma de sua casa e os entrevistados também. Toda a equipe está remota: produção, reportagem, edição. Está ficando muito bom o resultado. O programa vai ao ar de segunda a sexta, às 17:30 horas.

JF: E como a Rede Minas trata a pandemia e a saúde de seus colaboradores?

DV: Fico muito feliz em ver como a Rede Minas está cuidadosa com os funcionários, evitando que a gente vá lá, mas dando apoio e liberdade para criarmos de forma remota e deixando bem claro que o mais importante é a vida! Para o mínimo de trabalhadores que estão se deslocando até lá, é obrigatório trabalhar de máscara, medir a temperatura antes de entrar, manter o distanciamento e usar álcool em gel.

JF: Há alguma cobertura jornalística que a tenha marcado?

DN: Sim, marcas felizes e tristes também. Na primeira, estava recém-formada quando houve uma greve das polícias, Civil e Militar, em Belo Horizonte, em 1997. Trabalhava como repórter da rádio Cultura e a Praça da Liberdade virou um campo de batalha. Houve tiros, ali no meio de um mundo de gente. Um Cabo foi morto e todos os jornalistas que estavam cobrindo corriam risco. Tive medo, mas sabia que era um fato histórico, pois a cidade parou.

Já na TV Alterosa eu apresentei uma ‘Agenda Cultural’ com o Nando Reis ao vivo. Eu já era fã e fiquei muito mais! Era aniversário da mulher dele e ele se apaixonou pelo colar que eu estava usando, queria comprar um igual para presenteá-la. Mas o colar era da minha irmã e tinha sido feito por ela mesma, cheio de medalhas de santos. Resultado: liguei para ela, que me mandou dar o colar para ele. E ele, cheio de gratidão, convidou a mim e a minha irmã para irmos ao show e depois visitar o camarim, onde fomos recebidas com muito carinho, fotos e boas risadas!

Guardo também com muito carinho a oportunidade que tive de entrevistar o arquiteto Oscar Niemeyer para uma reportagem e ainda uma passagem ao vivo, no mesmo dia. Avisei que faria ‘o vivo’ com ele ao fundo. Quando o Niemeyer percebeu que estávamos no ar, ele deu um aceno! Amei!

E, mais recentemente, em 2019, fui fazer a produção de um documentário em Brumadinho (MG), dois dias depois que a barragem da Vale se rompeu. Aquela imagem da lama ainda muito mole, engolindo tudo, as pessoas desoladas, sem lugar, o trabalho incansável dos bombeiros em busca de corpos, foi uma experiência de doer o coração.

JF: Falando em sair do próprio contexto para ver outras realidades, por sua experiência com os viajantes e os colaboradores mundo afora, em seu quadro no jornal da Rede Minas, o que é mais comum entre eles?

DV: Todos estão super contentes de estarem colaborando, mas também muito tristes e preocupados com a situação da pandemia no Brasil. Ainda mais porque vêem que, exceto os Estados Unidos, todos os países onde a maioria vive fizeram o isolamento social e todos os cuidados recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e conseguiram conter a curva de contaminações enquanto o Brasil, não.

JF: E nesse caso, o que os outros países ensinam ao Brasil?

DN: Acredito que os outros países têm muito a ensinar ao Brasil. Principalmente na questão de valorizar a Ciência e tomar todos os cuidados necessários para prevenir o contágio. Em especial a Nova Zelândia, país no qual temos uma colaboradora, e é referência no combate ao coronavírus. A primeira-ministra de lá fez o dever de casa direitinho e hoje não tem nenhuma contaminação ativa. Sempre sugiro aos nossos colaboradores que possam abordar temas que transmitam um bom exemplo para o Brasil, mas o governo daqui tem que fazer o papel dele também. Enquanto isso não acontecer, não sei o que podemos esperar.

Quer acompanhar os programas da Dani?

1. ‘Giro pelo Mundo’: Acompanhe os depoimentos de todos os colaboradores e as notícias internacionais aqui.

2. ‘Brasil das Gerais’: Confira como ficou o novo formato do programa realizado ‘de casa em casa‘.

Júlia Fernandes é formada em Comunicação Social pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF), tem MBA em Marketing e Comunicação e especialização em Gestão Estratégica da Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). A autora tem experiência profissional – em âmbito público e privado – nos setores de comunicação institucional e marketing.