Inovação, transparência, "compliance".. para quem? Por Marcondes Neto.

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As três palavrinhas do título permeiam quase todos os discursos que ouvimos, atualmente. Há outras, tais como narrativa, propósito, engajamento, sustentabilidade… Nas bocas de presidentes da República. De dirigentes esportivos. Do industrial, do sindicalista ou do dirigente de ONG. Do Papa aos paparazzi, passando pelos partidos políticos brasileiros que este OCI, aliás, em 2014, demonstrou que não se distinguem perante o eleitorado e não se comunicam devidamente com a cidadania. (*)

Temo que todos mintam, omitam, tergiversem, pois quando surge uma verdadeira inovação nos ambientes de trabalho em que tenho circulado – e não são poucos – o que observo é mais medo de mudança do ‘status quo’ do que loas à inovação e à sua eventual contribuição.

O que mais encontro, infelizmente, é a mesmice. A modorra, o enfado, o ‘cumprimento de tabela’, sempre pelo mínimo, e o onipresente ‘me engana que eu gosto’… nos corredores universitários, até em algumas empresas ‘pontocom’, mas, principalmente, nas organizações governamentais.

Transparência? Só nos discursos, porque nas práticas, nunca! Palavra tentadora, aparece nas promessas. De todos. Mas o que dizer sobre a ‘entrega’ da tal transparência? Não se fala tanto em ‘ser bom de processos’, em ‘ser bom no delivery’? Nada disso. Opacidade total.

‘Compliance’ – ou aderência a normas preestabelecidas – para quem? Para o seu fornecedor, talvez, chantageado pela exigência formal. Mas não para você mesmo, que sempre arranja um jeitinho de acomodar os ânimos, as coisas erradas e suas consequências. Ah… brasileiros cordiais…

Brasil: país do ‘faz-de-conta’. Infelizmente.

O presidente do Senado Federal discursa que ‘… esta Casa é a instituição mais transparente do país’. Não é! Montadoras, usinas, empreiteiras e mineradoras (dizem que) agem inteiramente ‘em conformidade’ com ‘os mais altos padrões de conduta ética, pautadas pela legislação em vigor e segundo os regulamentos do setor’. A petroleira – de práticas corruptas generalizadas há anos – sedia um seminário sobre excelência em governança corporativa! E o evento, por sua vez, é coberto ‘com exclusividade’ (claro… é um evento patrocinado) – a peso de ouro – pelo próprio ‘veículo da grande imprensa’, que diz primar por qualidade, mas que entrega, de verdade, um diário cada vez mais mirrado após o enésimo “passaralho” aplicado à sua redação.

Caríssimas faculdades – públicas, às custas de todos os cidadãos –, e particulares, as quais muito pesam no orçamento dos próprios estudantes e dos pais de família – ‘vendem’ capacitação para inovar em seus outdoors, mas comprimem o pagamento das horas-aula e principalmente as demais horas que um professor precisa para bem realizar o seu ofício – preparação, correção de trabalhos e provas, orientação de trabalhos de conclusão de curso.

A cidadania tem que exigir mais ação, mais correção, menos discurso e menos desvios de conduta. A sociedade tem que escrutinar o trabalho dos governantes e parlamentares que elege. E estes, por sua vez, devem prestar contas de seus atos, periódica e sistematicamente. O consumidor tem que ser mais atento com o que compra e o que contrata.

Só assim, em um nível mais elevado de exigência de satisfações públicas por parte das organizações é que poderemos, no Brasil, atingir outro – mais alto –, patamar de civilidade e de civilização. Riquezas, temos. Instituições idem, e arrecadação também. O que nos falta, então?

(*) Acesse a pesquisa sobre discurso institucional das siglas partidárias do Brasil em – https://observatoriodacomunicacao.org.br/analises/oci-ano-ii-publicada-primeira-grande-analise-do-observatorio-da-comunicacao-institucional/

Por Manoel Marcondes Machado Neto, relações-públicas, professor associado da UERJ, doutor pela USP, cofundador deste Observatório da Comunicação Institucional.

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).