Desde o surgimento da plataforma de mensageria WhatsApp, este escriba é de opinião (que não mudou) que tal meio jamais deveria ser utilizado institucionalmente por servidores públicos no exercício de suas funções… públicas.
A mesma opinião tenho-a com relação às demais plataformas, em especial ao Twitter. O microblog, pela proporção que alcançou, tem sido o meio pelo qual transitam conteúdos com potencial danoso à opinião pública e aos próprios usuários. Quando Donald Trump usou o Twitter pela primeira vez para procunciar-se como presidente, pensei: danou-se!
Mais: desde que foi inventada a tal da monetização de conteúdos na internet – numa corrupção total da ideia-essência da rede – taxei-a e “a pior coisa que poderia acontecer no meio da comunicação profissional”. A tal da uberização consentida (e admirada!) ainda vai desconstruir os ordenamentos do Ocidente.
Internet, eleições e desinformação
Nos pleitos eleitorais brasileiros de 2014, 2016, 2018 e 2020, o O.C.I. pesquisou e debateu o tema do marketing político-eleitoral e, em 2022 concluiu que a única forma de manter a paridade de armas entre as campanhas seria a retirada do ar do WhatsApp nos 45 dias de campanha eleitoral. Em abril daquele ano, inclusive, emitimos um acórdão conceituando fake news – coisa que ninguém mais fez.
Os fatos que se sucederam – e que até hoje comprometem as eleições -, devem-se exclusivamente à constatada omissão do Estado brasileiro, que negligenciou o assunto. E na interminável CPMI das fake news continua a disputa: quem sabe menos do que está tratando, os que inquirem ou os que são inquiridos? Um senador chegou a ir a Moscou para consultar-se junto a “especialistas” russos sobre como combater a desinformação.
O imbroglio da hora, envolvendo um outro senador, um deputado federal e um ministro, é uma cartilha que vai do A ao Z sobre desinformação – que vou intitular de “Por que redes sociais não podem ser consideradas veículos de comunicação“. Como acontece agora no Brasil, nunca um disse-não-disse pôde sustentar notitia criminis. Crimes de pensamento, palavras e de intenção – como no filme “Minority Report” – não existem em democracias.
“Consorcio de veículos de imprensa”, coisa nunca antes vista…
Quando o conceito atual de narrativa chegou às escolas de Comunicação sob a égide da disciplina ‘Teorias do Jornalismo’, eu estava lá. Nascido na Propaganda, o story telling também apoia muito o trabalho de Relações Públicas, mas é recurso literário e retórico que só desserve ao reporte de fatos. Nada de history telling – algo que o jornalismo profissional coloca a serviço de historiadores que, com seus metodos próprios, sacramentam a História (com “h” maiúsculo).
E é único na história da comunicação o tal “consórcio de veículos de imprensa” que se estabeleceu no Brasil em 2019 (e autoproclamado extinto em 2023). Ben Bagdikian, em seu livro “O monopólio da mídia”, já acenava para a concentração de poder, mas eram tempos de concorrência acirrada entre diferentes veículos (e suas respectivas posturas ideológicas). Um exemplo brasileiro: O Globo X JB. Bons tempos aqueles…
Joga na rede… e vamos ver no que é que dá…
As pessoas estão vivendo o que chamo de um frenesi digital, fenômeno tão crônico que, no estudo e no trabalho, elas almejam ser tão eficientes quanto… algoritmos…
Criatividade de abordagem, mandamento da propaganda, deu, na imprensa, lugar a chavões, lugares-comuns e enunciados repletos de frases feitas e “verdades absolutas”. Quer-se “vender” versões, não fatos reportados. (Saudades de Ben Talese).
Não por outra razão tem surgido – por todo lado – uma necessidade enorme por conhecimento em Filosofia. Algumas pessoas se dão conta de que é preciso… pensar e, urgentemente, serem donas das próprias ideias.
Infelizmente, a grande maioria dos meus ex-alunos se vê repetindo conceitos – e preconceitos – que ouviram (… nem sabem onde) e, na hora de defendê-los… rasos… partem para uma confrontação hostil.
Civilização, civilidade e urbanidade, parece, são valores que não cabem mais neste ambiente atual de pressa, respostas imediatas e cobrança de erro zero… exatamente aquilo que se espera de um robô e não de um humano.
“Quanto mais conheço os homens mais admiro os algoritmos”. Winston Smith.
A personagem de “1984” não disse isto, e nem George Orwell, o autor da obra… mas que bem caberia hoje em suas reflexões, caberia… quando a mainstream media quer nos impor que 2 + 2 = 5.