Eu falo, você não compreende, e nós não nos comunicamos. Por Deborah Sousa.

E assim segue a humanidade, se desentendendo nos mais variados níveis, do presidente dos EUA até o pessoal do prédio que não interpretou direito a ata da reunião.

Por que será que a comunicação tem sido tarefa tão difícil ultimamente? Quem sabe, um pouco de má vontade do emissor, ou do receptor, porém a culpa não deve ser nunca da mensagem. O fluxo de informações faz parte da nossa vida, porém ganhou status absurdamente exagerado com tantos emissores disparando – em massa – informações desconexas, interessantes, dispensáveis, repetidas, erradas, engraçadas, bancárias, religiosas, comerciais, íntimas, desconhecidas, e segue uma lista enorme que só paramos quando damos um basta ao desligar a luz e dormir. (Tem gente que não sabe parar e continua num ciclo sem fim de infinita exposição ao mundo conectado).

Tenho tido dificuldades rotineiras com assuntos simples e, por isso, acredito que a comunicação verbal está cada vez mais rápida e superficial. O que ficaria subentendido fica apenas à mercê da interpretação do receptor da conversa. Uma ótima alternativa então seria escrever! Quem sabe por escrito fica tudo claro e objetivo?

Mas não tem sido o que vemos nas trocas de e-mails, nos comunicados de empresa, nos raros textos escritos dos aplicativos e nos comentários das redes socais, que por falta de interpretação ou leitura mesmo, dão margem aos ‘textões’ exaltados que nunca têm fim! Sem contar as mensagens erradas enviadas para grupos diferentes ou do colega para o chefe e vice-versa.

Quem nunca trocou o receptor de uma mensagem através de qualquer veículo… que elabore a primeira crítica!

A fim de evitar essas situações constrangedoras adotei um comportamento mais cuidadoso em relação à minha comunicação. Releio antes de apertar a tecla de envio, pergunto-me se ficaria constrangida se outra pessoa fosse ler, se estou sendo irônica com algum colega ou coisa parecida, e já vou deletando tudo. Mesmo assim, as falhas pipocam nas conversas… Para que correr o risco de estragar uma relação, ser mal interpretada ou grosseira com outra pessoa? A vida de todo mundo está difícil e cheia de desafios. Não vou eu piorar com uma comunicação truncada ou mesmo ‘violenta’.

É nossa responsabilidade – como emissores – escolher como a informação vai chegar para o emissor, sendo ele nosso ‘best friend’, um(a) CEO, uma plateia. Quem quer que seja, todos merecem respeito e um pouco do nosso tempo para elaborar melhor o que será comunicado.

O jornalista aprende muitas técnicas justamente para minimizar as possíveis falhas na comunicação, mas que não evitam todas e estão aí os processos por danos morais para contar que deslizes e erros grosseiros também acontecem nas redações. Mas se eu fosse gestora de uma empresa não dispensaria o trabalho de um jornalista para garantir que os conteúdos divulgados dentro e fora da companhia fossem objetivos, claros e acessíveis a todos os tipos de pessoas, inclusive, como provocava sempre meu professor de faculdade: ‘será que a minha mãe vai entender esse texto?’.

Deborah Sousa, jornalista formada cursando MBA de Gestão da Comunicação Organizacional. (Este texto foi publicado pela autora no Linkedin Pulse em 30/11/2017).