De patinho feio a cisne negro. Por Solange Oliveira.

Recentemente, li um livro que achei muito interessante: A Lógica do Cisne Negro (The Black Swan), de Nassim Nicholas Taleb. Acredito que muitos já o tenham lido ou conhecem o autor por outras de suas obras.

Ao ver o título do livro, imediatamente voltei à minha infância quando, aos cinco anos de idade, já alfabetizada pelos meus irmãos mais velhos, ganhei de presente da minha mãe aquele que seria o meu primeiro livro: O Patinho Feio, de Hans Christian Andersen.

Minha identificação com o Patinho Feio foi imediata – por motivos diversos que não detalharei neste texto (mas que estarão no meu livro, ainda em progresso). No entanto, algumas discussões trazidas pelo livro de Taleb remeteram-me ao universo (do Patinho Feio) que tanto marcou a minha infância e, por que não dizer, toda a minha história.

A Lógica do Cisne Negro, em breve resumo, tem como tema central o impacto de eventos altamente improváveis e imprevisíveis na vida das pessoas, nos mercados e na história, assim como um “cisne negro”, basicamente, que tem como características a raridade, o impacto extremo e uma certa “previsibilidade retroativa”, ou seja, depois que ele ocorre, tentamos explicá-lo como se fosse previsível, lançando mão de recursos tais como modelos estatísticos, de forma a criar uma ilusão de previsibilidade, como se o acaso ou o desconhecido pudessem ser efetivamente ignorados. Criamos algumas narrativas que evocam o passado para ficarmos mais “confortáveis” diante do inesperado.

O que poderia soar como crítica do autor à ciência, por exemplo, reside no fato de que a maioria dos estudos e modelos estatísticos não levam em consideração os fatores extremos e inesperados que sempre permearam a história dos indivíduos e dos fenômenos.

Não quero entrar no mérito dessa avaliação de Taleb porque não sou especialista em Estatística, mas penso que o mundo é mais incerto e mais imprevisível do que admitimos. Ao resgatar a minha imediata identificação com o Patinho Feio do conto de fadas, lembro dos momentos em que realmente acreditei que havia alguma coisa errada naquela menina – eu –, que não se parecia em nada com a família na qual foi gerada e cujo futuro parecia já determinado considerando a realidade social na qual havia nascido.

O patinho feio de Andersen contrariou todas as previsibilidades, se tornando o que na verdade sempre foi desde sempre, um cisne. A incerteza do que realmente era não o impediu de encontrar seu verdadeiro mundo, a despeito de toda fragilidade gerada pela incompreensão de todos por sua diferença.

Tal lógica do Patinho Feio, que na verdade era um cisne, e a “lógica” do Cisne Negro de Taleb, fizeram-me pensar em como nos fortalecemos quando sabemos quem somos. Na vida, as coisas nem sempre acontecem como planejamos. Encontramos muitos “cisnes negros” no mundo corporativo, nas relações pessoais e por aí vai.  A ilusão de que temos o controle das situações é a principal responsável pela frustração que sentimos quando perdemos aquele emprego – que no fundo nem era tão bom assim –, quando nos deparamos com uma doença inesperada, quando perdemos alguém que amamos e tantas outras coisas que, simplesmente, acontecem. Acabamos muitas vezes por reduzir nossa história à condição imposta por aquele cisne estranho, e isto é extremamente perturbador.

Penso que aceitar a incerteza como parte da vida nos ajuda a desenvolver uma capacidade maior de reação diante dos cisnes negros que eventualmente irão surgir ao longo da nossa existência.

Reconhecer quem somos, nossa essência, crenças, nossos valores, enfim, tudo aquilo que nos torna únicos, pode nos ajudar de forma surpreendente a lidar com o improvável – um desafio que começa na infância e que se aperfeiçoa com a maturidade.

Estejamos abertos ao inesperado. Às vezes, boas oportunidades podem surgir dele e, quem sabe, alguns patinhos feios venham contrariar todas as previsibilidades e se tornem cisnes lindos num mundo cada vez mais caótico.

Solange Oliveira é RP de formação pela UERJ, pós-graduada em Marketing pela UCAM e especialista em Comunicação Corporativa pela FGV. Executiva de marketing e comunicação, apaixonada por gestão de marca e imagem corporativa. Tem experiência comprovada em gerenciamento de programas globais de comunicação interna, projetos de rebranding e de ESG.