Da era da ignorância à era da curadoria.

Com a atual profusão de fontes, o desafio individual de cada dia, hoje, é escolher quais delas vão nos abastecer de informações e análises. Se, antes, se podia alegar desconhecimento – ignorância de algum fato ou dado – por não acesso ou por dificuldade de compreensão, isto não pode mais ser alegado num debate que se queira honesto.

O problema trazido pela tal da “narrativa”: mistura entre fatos e personagens.

Reportar os fatos (função da imprensa) VERSUS Opinar sobre fatos ou sobre pessoas (função de analistas especializados).

Ocorre que em países com deficit educacional – como é o caso do Brasil -, o cidadão comum não aprende (e não consegue) distinguir os dois tipos de discurso, os dois tipos de mensagem (*).

Vícios culturais brasileiros

O primeiro vício é a ideia de Estado-pai…

Ao longo do tempo, culturalmente, vimos exprimindo a mentalidade (mindset) de que “eles” – o poder, os políticos, as autoridades – mandam… nos provêm… e que “obedece quem tem juízo”.

O segundo vício é, também, “coitadismo” – como o primeiro. Trata-se da ideia de que “todo patrão é um fdp”.

Tal conjunto de crenças tem consequências nefastas no agir, tanto individual quanto coletivo.

Quem não se ilustra pela aquisição de conhecimento apresenta uma atitude reativa. Sempre. Ao invés de captar uma dada mensagem e tentar refletir sobre ela, o brasileiro “sai fazendo”…

Estamos mais ocupados com a obtenção de uma resposta, qualquer resposta, do que em formular perguntas – que é um sinal inequívoco de inteligência.

Fulanização, autoridade, “minhas fontes”

Contrariando o conceito mcluhaniano de que o meio é a mensagem, o que vigora é uma variação “personalista”: “a fonte é a mensagem”.

Assim, num ambiente de “seguir o que o mestre mandar”, dependendo de quem fala, o brasileiro acredita e… segue…

Nosso jornalismo incorre no mesmo pecado. Cobre palácios e não os fatos das ruas. Isto sem dizer que repórteres têm sido substituídos com frequência por comentaristas – um “comentarismo”. Isto, sem falar no viés ideológico hoje praticado pelos veículos da “grande” mídia.

E os fatos? Ah… esses são providenciados por jornalistas (mais) bem posicionados… nas grandes empresas de assessoria de imprensa. Bem-vindos à era da pós-verdade!

(*) Luta de vida inteira do Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares, a implementação da educomunicação nos níveis fundamental e médio do ensino seria uma saída para a vulnerabilidade do cidadão frente às máquinas da mídia.