Covid-19: momento decisivo para os pequenos e médios. Por Vanessa Costa.

A pandemia acendeu o holofote sobre as pequenas e médias empresas e sua importância para a economia brasileira, e para a do bairro. Na vida pré-isolamento, muita gente que usufruía de serviços mais próximos aos grandes centros financeiros, por conta da jornada presencial no trabalho, agora, dentro de casa e no home-office, se sente parte ou ao menos mais integrado à região onde vive. É como se a presença desses pequenos negócios de repente se descortinasse aos olhos de quem sempre passou muito tempo na rua, longe de casa; e aí mais gente começa a reparar, buscar e experimentar deliveries locais, supermercadinhos, farmácias de portinholas, lojas para pets e quitandas de esquina.

Muitos movimentos surgiram na crise da Covid-19 para dar voz a esses empreendedores e incentivar ainda mais a compra dos pequenos e médios, que geram empregos, valorizam o mercado imobiliário local, desenvolvem lideranças, promovem circulação e mais segurança ao bairro. É o caso do movimento #compredobairro, que alardeia: são mais de 40 milhões de pessoas que dependem hoje, no Brasil, direta ou indiretamente do pequeno e médio varejo.

Não que os pequenos e médios estejam agora se beneficiando do isolamento social recomendado pelas autoridades. Longe disso. Mas faz sentido pensar que este pode ser um momento decisivo, quando uma concentração de possíveis novos consumidores está, hoje, mais próxima e, por que não dizer, mais desejosa e disposta a experimentar dos serviços e produtos da esquina, do largo, da vila.

O isolamento; as campanhas em prol dos pequenos e médios, que cultivam no consumidor a sensação de pertencer e fazer a diferença na vida econômica do bairro, e o home-office, são fatores externos dos quais os empreendedores podem se valer sim como oportunidades para a conquista e fidelização de clientes. Mesmo diante do caos da pandemia é preciso estar atento a algumas iniciativas que podem dar certo agora e, principalmente, no futuro, dentro de uma nova perspectiva de consumo que a crise faz nascer e incute nas pessoas: a busca pelo produto ou serviço local, mais perto de casa e do trabalho (cujas fronteiras estão com os dias contatos), que requer menor esforço logístico para a compra e, portanto, é mais limpo ambientalmente falando, mais barato e melhor para o nosso planeta (aquele que temos ignorado há séculos).

Articular um serviço delivery regional a partir dos serviços de entrega compartilhados (outra tendência que a experiência Covid-19 deve reforçar); apostar no e-mail marketing chamando o cliente pelo nome (coisa que o varejo de bairro faz como ninguém); investir no atendimento e nas embalagens como instrumento de comunicação; no WhatsApp marketing, com peças simples e interativas que levam o consumidor ao e-commerce, mídias sociais e/ou ao site; buscar participar dos grupos de bairro nas mídias sociais e aplicativos (uma versão digital do boca-a-boca); gerir as mídias sociais do negócio com conteúdo orgânico qualificado e relevante ao consumidor, além de segmentar anúncios com geolocalização são estratégias que o mercado dos pequenos e médios já observa intensamente no momento. O gerenciador de anúncios do Facebook, por exemplo, nos últimos dias tem alertado que a análise dos conteúdos patrocinados tende a levar mais tempo agora do que o habitual, em função do alto volume de anúncios transitando na plataforma. É claro que a Covid-19 é causa disso e que os pequenos e médios têm forte participação nesse fluxo.

Resistir a este momento sem precedentes é um desafio e tanto, mas que pode ser muito transformador. Muitos analistas acreditam que a maneira como vivemos, trabalhamos e consumimos não será a mesma em um futuro bem próximo, quando pudermos olhar para trás e avaliar com calma os reflexos desse tempo de exílio, longe do trânsito frenético das cidades, dos amigos e família, das aglomerações dos grandes centros, das torres corporativas, dos shoppings, tudo em nome de uma nobre causa – a saúde própria e a do próximo – o que nos faz ressignificar conceitos de urgência e importância.

É curioso perceber que a poderosa economia global foi profundamente afetada pelo mais simples organismo vivo no mundo, e hoje parece tão frágil quanto um castelo de cartas. Mesmo que contrariados, e de forma compulsória, somos agora convidados a nos recolhermos e a nos voltarmos às coisas de casa, às coisas da vizinhança, à vida do bairro – ao nosso corpo. Isso não precisa ser visto como um encolhimento de possibilidades, mas sim como uma oportunidade diferente de vida, da qual os pequenos e médios podem participar mais e melhor.

Vanessa Costa tem formação em Jornalismo e Comunicação Empresarial pela Fundação Cásper Líbero e especialização em Marketing Digital pela ESPM. Cursa atualmente um MBA em Gestão de Projetos. É co-fundadora da Elabore Estratégia (www.elaboreestrategia.com.br), agência de comunicação integrada com foco em pequenas e médias empresas, startups, ONGs e instituições representativas. É escritora e autora do livro infantil ‘As Fadas Banguelas’. E-mail: vanessa@elaboreestrategia.com.br