Coronavírus e monetização de 'live shows'. Por Isabela Marchesani, com contribuições de Lídia Ferreira.

Nesse momento em que o Coronavírus nos condiciona ao isolamento social, a internet e as redes sociais têm sido instrumentos fundamentais para que possamos continuar a levar a vida, ainda que de maneira incerta. Seguimos transformando relações íntimas, familiares, profissionais e sociais.

Com a orientação da OMS para que qualquer tipo de aglomeração de pessoas seja evitada, a maioria dos setores precisou se adaptar. Artistas de várias partes do mundo viram suas peças, shows, novelas e filmes sendo cancelados ou adiados, sem data certa para o reencontro com o público.

Em virtude do novo cenário mundial e a impossibilidade de estarem junto às multidões, mas com a necessidade de se manterem ativos e presente na vida de milhares de pessoas ou, sejamos otimistas, por empatia, vontade de seguir conectando e levando diversão para aqueles que sofrem com preocupações diferentes, esses adiamentos fizeram crescer exponencialmente as live shows no Instagram, Facebook e YouTube. Cantores fazem shows direto do sofá, apresentadores fazem entrevistas com atores, cada um do seu canto preferido de casa.

Grandes marcas com campanhas publicitárias em mídia extensiva nas principais cidades do país também foram surpreendidas com as medidas de isolamento no país e, buscando se adaptar ao momento, acharam nas lives uma nova opção para continuar presentes na vida do consumidor.

Além do distanciamento social, decretos para o fechamento de serviços que não são essenciais fizeram diminuir drasticamente o número de pessoas nas ruas, limitando e tornando defesas de mídia completamente mutáveis e instáveis. Live shows, com milhões de acessos simultâneos e quebra de recordes de impressões, viraram oportunidade para marcas exporem seus produtos e patrocinar lives de cantores populares. Os artistas, por sua vez, viram a oportunidade de faturar e continuar no topo.

Marcas e artistas seguem na luta para se manterem relevantes, monetizar durante a pandemia e, de quebra, arrecadar doações para hospitais e comunidades carentes. Algumas dúvidas, enquanto profissional de comunicação, surgem: os valores pagos pelas marcas aos artistas, para fazer propaganda de seus produtos, são maiores do que as doações? O valor do patrocínio é embolsado pelo artista? E as marcas, estão cumprindo seus papéis, ao não demitir, não cancelar contratos e revertendo parte dos lucros para benefício da sociedade? Como esse marketing – em momento de caos, pandemia e crise econômica – será visto pela sociedade: demagogia ou preocupação sincera?

É nosso papel como comunicólogos questionarmos o posicionamento das marcas durantes crises, compreendendo o papel de cada uma dadas as circunstâncias mundiais e nos mantermos críticos frente ao que se apresenta no momento, principalmente levando-se em consideração as rápidas mudanças que já estão ocorrendo e a forma como isso impactará o futuro da comunicação e da publicidade.

Lídia Ferreira é jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Ouro Preto. Atualmente trabalha com Marketing e acredita que é possível criar conteúdo cada vez mais afetivo e humanizado.

Isabela Marchesani é mineira de Belo Horizonte. Graduada em Comunicação social com ênfase em Publicidade e Propaganda pela PUC Minas e especialista em Comunicação Digital pela mesma universidade, atua desde 2010 como mídia offline em agências de publicidade. Segundo ela mesma, segue ‘focada em encontrar um equilíbrio entre o mundo on e o off, no trabalho e na vida’.