Consumismo: o quanto você está disposto a pagar? Por Marina Boldrim e Glauber Trevisan.

Liquidação. Sale. Off. Quem nunca foi tentado por essas palavras quase mágicas em lojas e ambientes diversos? E quem nunca sentiu a dor de cabeça, o choque, na chegada da fatura do cartão de crédito e o impacto no bolso por ter cedido à tentação e ter exagerado em compras até então percebidas como ‘bons negócios’? Se você, leitor, se identificou, saiba que não está sozinho. Afinal, quem nunca comprou algo que não precisava em um momento de impulso e depois se arrependeu?

Pesquisas realizadas nos últimos anos pelo SPC – Serviço de Proteção ao Crédito, e pela CNDL – Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, demonstram o quanto o imediatismo e a urgência provocados pelas promoções podem se sobrepor à capacidade de reflexão do consumidor, que por vezes deixa de avaliar sua efetiva necessidade antes de agir. Necessidade, desejo e sonhos de consumo todos nós temos; no entanto, pode ocorrer um problema quando as eventuais ‘boas oportunidades’ viram compulsão.

Com compras e mais compras desenfreadas e sem real necessidade, muitas vezes as dívidas se acumulam em uma velocidade mais rápida do que podemos efetivamente pagar, gerando assim uma bola de neve com parcelas diversas, juros, limite de crédito comprometido e, por vezes, até inadimplência e o temido ‘nome sujo’ na praça. Mas se sabemos dos efeitos do consumismo, por que ainda vemos pessoas endividadas por terem exagerado em compras supérfluas?

Em muitos casos, há forte influência da sociedade de consumo, marcada por pressão social e pela valorização do ‘ter’ em detrimento do ‘ser’. O celular e aparelhos recém-lançados, as roupas de grife, o carro do ano e tantos outros itens modernos e ‘da moda’ podem nos conferir uma sensação de felicidade, bem-estar e sucesso, ainda que momentânea. De certa forma, é como se as demonstrações de status e a ostentação nos trouxessem realização social, uma vez que nos inserimos ou reforçamos nosso pertencimento em grupos sociais determinados. Quem nunca comprou algo para não se sentir inferior ou excluído em determinada situação?

Além disso, as sensações boas e de prazer provocadas pelo ato de comprar em si ou pela posse de determinados produtos podem, por vezes, mascarar problemas como baixa autoestima, angústia, carência e falta de controle emocional. Não é à toa que muitos vão às compras como forma de escape ou vício, para aliviar sentimentos negativos, estresse e/ou ansiedade. Por esta razão, é importante nos atentarmos para não sermos dominados pela emoção e ponderarmos o componente racional em nossas decisões de cunho financeiro.

Pensar antes de agir, controlar os impulsos, planejar melhor os gastos e consumir de forma consciente também podem ser boas dicas para não deixar o consumismo nos consumir. Tenha em mente que nem tudo que queremos, de fato precisamos comprar – ainda que estejamos diante de uma grande oferta. Quando compramos algo desnecessário e comprometemos nosso orçamento, nenhum desconto realmente vale a pena. Até porque, como diz a sabedoria popular, o barato pode sair caro. E muito.

Ilustração: Ewerton de Campos Silva.

Glauber Trevisan é graduado em logística e administração, atua na área de supply chain & compras. Contato: glauber.btrevisan@gmail.com

Marina Boldrim é publicitária (USP) e especialista em Gestão de Comunicação e Marketing (USP) & Marketing Intelligence (Universidade NOVA de Lisboa). Atua na área de business intelligence e se interessa por temas de performance e comportamento. Contato: marina.boldrim@gmail.com