Como a 'nova' fase política impacta na comunicação? Por Gustavo Costa.

Sempre tenho uma preocupação sobre como a política interfere em nossas vidas, pensando no viés da comunicação nas empresas, não seria diferente. A pergunta que fica em minha cabeça é:

– Essa ‘nova’ fase política que estamos vivendo vai afetar de que maneira a comunicação empresarial? Será positiva ou negativa? Quais aspectos serão mais evidentes?

Primeiro vale explicar o motivo de utilizar as aspas para referir ao novo. Não temos uma nova política, apenas mais do mesmo, com um discurso mais midiatizado pelas redes sociais e com muitas frases de efeito, fazendo o que a velha política sempre fez, desviar do foco principal.

Voltando ao tema, vivemos nos últimos anos uma transformação muito grande no empoderamento de parcelas minorizadas da sociedade e isso se refletiu fortemente nas campanhas publicitárias, nas ações de comunicação interna, na comunicação institucional etc., mas mesmo com todos esses incentivos na construção de uma nova sociedade, ainda tivemos muitos problemas, pessoas continuam sofrendo assédio nas empresas, mulheres ganham menos, gays sofrem preconceito, negros têm menos chances de trabalho e todas as outras questões que já conhecemos.

Se com todos os avanços ainda temos todos esses problemas, imagine agora que não há mais o incentivo a essas políticas de inclusão?

Pensando nisso, o posicionamento vai ser o grande fator de revelação de muitas demagogias ocultas nas empresas. Sabe aquele valor ‘funcionários são a parte mais importante da empresa’? Já que podemos terceirizar, vamos demitir todos e contratar PJs? Sabe aquele diretor que aceita os programas de inclusão por que ‘é o politicamente correto’? Ele com certeza vai se opor, afinal não concorda com isso. Sabe aquela campanha linda de final de ano de algumas empresas? Elas vão continuar sendo lindas? As empresas vão continuar sendo disruptivas? Vão aguentar o embate nas redes sociais, as críticas, as ofensas?

Fico pensando na comunicação interna; será mesmo que os funcionários ainda continuarão a ter espaço, vez e voz nas organizações? Quantas ações poderão ser barradas por serem consideradas ‘desnecessárias’.

Avaliando do ponto de vista das relações públicas, será necessário pensar todas as ações três, quatro, cinco vezes antes de aplicá-las. Verificar diversos cenários, prever crises, criar planos B, C, D…, antecipar comunicados, voltar atrás e pisar em muitos ovos.

Tudo isso vai dar muito trabalho, principalmente na exigência de profissionais muito capacitados, que saibam lidar com a pressão e tenham a habilidade de sair de situações controversas de forma criativa, sem prejudicar a imagem institucional das empresas.

– E você, como enxerga a comunicação nessa ‘nova’ fase?

Gustavo Costa é relações-públicas e desenvolve trabalhos de comunicação com empresas em São Paulo. Em 2018 ganhou o Prêmio Universitário Aberje com planejamento estratégico para a Sabesp, além de produção científica sobre Ética, Reputação e Posicionamento no Supremo Tribunal Federal sobre a ótica das Relações Públicas, que, em breve, será publicada.