Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado uma crise severa de desinformação, agravada pelo avanço rápido e descontrolado dos meios tecnológicos.
Com a ascensão das redes sociais e o fácil acesso à internet, a propagação de notícias falsas tornou-se um dos maiores desafios da sociedade moderna.
Essa verdadeira anomalia do século, que ganhou força especialmente nas eleições de 2018 e se intensificou durante a pandemia de Covid-19, vem crescendo, ganhando força e se expandindo por todo o país.
O funcionamento dessa mecânica enganosa e ilusória, embora seja uma técnica poderosa de convencimento, não tem o objetivo de informar de maneira apropriada, mas sim de alienar abruptamente a percepção e a capacidade de pensar dos indivíduos.
É inegável que os avanços digitais trazem inúmeros benefícios, mas não podemos fechar os olhos para o fato de que o manuseio dessa tecnologia tem sido amplamente utilizada como ferramenta de manipulação, especialmente impulsionada por interesses pessoais, políticos, ou econômicos.
O culto à ignorância, agora tratado como virtude por muitos, tem se tornado cada vez mais comum. Alimentado por uma dinâmica onde a desinformação prolifera, as fake news se confundem com a verdade.
De fato, vivemos um momento crítico de manipulação global, no qual o domínio da grande mídia e a enxurrada de informações distorcidas têm causado uma fragmentação cognitiva preocupante na população. Hoje, informações verdadeiras estão sendo frequentemente distorcidas e compreendidas como falsas, enquanto narrativas enganosas ganham credibilidade e força popular.
As plataformas digitais, que outrora serviam como espaços de troca de ideias e disseminação de informações confiáveis, tornaram-se verdadeiros campos de batalha política. Por meio da difusão intencional de conteúdos deturpados e enganosos, essas ferramentas, agora apropriadas por personalidades e grupos com interesses escusos, têm sido uma ferramenta eficaz para disseminar a opinião pública, afetando principalmente a população mais vulnerável.
É penoso termos que conviver diretamente com esse cenário, principalmente quando somos julgados, censurados e até mesmo hostilizados por expressar pensamentos contrários à grande massa. A questão evidenciada vai além das fake news, trata-se de um fenômeno social que demonstra o quão complexo e preocupante se tornou a relação da sociedade com a verdade e com a ética.
A sensação de insegurança e injustiça nos leva a questionar: como chegamos a esse ponto? Como a sociedade se encontra inerte a tamanha brutalidade e consome tanta irrealidade a ponto de demonizar qualquer visão contrária?
Além disso, é evidente que um dos métodos mais utilizados para essa alienação é a exploração de figuras religiosas com o intuito de promover interesses próprios e fomentar jogos inescrupulosos. Muitos atores políticos e influenciadores digitais utilizam a retórica de “princípios cristãos” como uma estratégia absurda para conquistar fama, influência e seguidores, enquanto desvirtuam valores e crenças de maneira oportunista para benefício próprio.
O bombardeio incessante de conteúdos enganosos, especialmente em plataformas como o Instagram, Facebook e YouTube, tem causado mudança proposital, perversa e aterrorizante na percepção da sociedade. O problema em si, é visível na formação dos jovens, que crescem à mercê de um ambiente saturado por informações falsas.
Essa dinâmica, que continua crescendo desenfreadamente, não apenas banaliza a perda de valores e princípios, mas também tem como objetivo fomentar o ódio, promover conflitos e perpetuar a desinformação.
Fica claro que, para os brasileiros, a banalização da perda de valores tem se tornado “comum”. Não podemos deixar de aludir a situação nítida, basta olhar ao redor para percebermos a normalização da corrupção, da desonestidade, da inversão de princípios, da ignorância e da violência, que se fazem cada vez mais presentes na esfera social em que vivemos.
A ética, infelizmente, está sendo colocada em segundo plano, e sendo sufocada por atitudes como o sensacionalismo, a irresponsabilidade coletiva e a manipulação descarada da verdade. A grande questão que nos resta é: será que o compromisso com a verdade ainda tem algum valor em nossa sociedade?
A nova geração, ao mesmo tempo em que está exposta a esses riscos, merece de forma digna o acesso à informações confiáveis, sobretudo, aliado à informação crítica e ao uso consciente das redes sociais. No entanto, se a geração cresce convivendo com fake news, será que já nos acostumamos tanto com a desinformação que já não lutamos contra ela?
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Pedro Mariano é pesquisador, membro da Academia Massapeense de Letras e já escreveu para diversos jornais do Estado do Ceará. Diplomado em Transações Imobiliárias e graduando em Ciências Contábeis, atuou nos cursos de Liderança Resiliente e Líderes de Aprendizagem pela Harvard University, além de Mercado Financeiro pela Yale University, recebendo certificado de mérito nas modalidades a distância. Como colunista, é reconhecido pelo combate à desinformação, pela desmistificação das fake news e pela defesa da veracidade da informação. Dedica-se também à escrita de poesias, ensaios, contos e à elaboração de seus livros.