Uma campanha política sem comícios, apertos de mãos e com santinhos virtuais. Quem imaginaria essa situação há poucos meses? Pois é, assim está em andamento a atual corrida eleitoral para cargos municipais. Pela necessidade de distanciamento social, os candidatos têm apenas uma opção para se fazer conhecidos e convencer os eleitores de que são a melhor escolha nas urnas: o marketing digital.
O mundo já vinha percebendo o potencial dos meios digitais, sejam eles redes sociais ou grupos de mensagens instantâneas, mas desta vez as estratégias são voltadas quase 90% para esses meios. Isso muda muita coisa na rotina de uma campanha eleitoral.
O desafio é transferir a empatia presencial, com a qual estávamos acostumados, para o convencimento baseado em argumentos concretos. Isso exige muito mais preparo por parte dos candidatos, dos seus estrategistas de campanha e da equipe de redes digitais. No entanto, essa nova necessidade torna a campanha mais autêntica e real. Quem conseguir mostrar as suas propostas de forma sólida terá mais chances de conquista de voto do que os candidatos de vizinhança que, muitas vezes, não têm um plano de governo, mas se elegem pela simpatia e proximidade.
As redes sociais dão um caráter mais prático para a ideologia defendida, mas tudo depende da capacidade de engajamento da sua campanha digital. Aquele que engaja mais nas redes, por meio do seu conhecimento, mensagens claras, posicionamento digital correto e estratégias eficientes, já sai na frente, mesmo sem os meios tradicionais de convencimento.
Porém, é necessário seguir à risca as normas implementadas para o período eleitoral. Por isso, elenquei algumas dicas a partir da experiência em comunicação empresarial e política:
1. Monitore as suas redes sociais
O controle de tudo que é dito sobre o candidato nas redes sociais é fundamental para a manutenção de sua credibilidade e reputação. Infelizmente, na era das fake news e dos ataques com agressividade crescente, existe muita incorreção na rede. E hoje é impossível realizar a gestão de imagem, seja de uma marca de produto, empresa ou político, sem controlar tudo que é dito sobre ele ou ela nas redes sociais.
2. Responda com agilidade a qualquer agressão
Somente o monitoramento constante permite responder no mesmo momento em que é feito algum ataque. Também é necessário prever e antecipar fake news, fazendo uso da regulamentação já existente para denunciá-las e esclarecer fatos, com o uso de provas. E evite associar a imagem do candidato a polêmicas.
3. Dê clareza ao plano de governo do candidato
Quase todos os postulantes a cargos públicos têm excelentes projetos para suas cidades, mas como comunicá-las ao público? Primeiro, os próprios participantes da campanha precisam ter claro o programa encampado pelo político que defendem. Na sequência, é necessário adotar uma linha de comunicação adequada à mensagem e ao eleitor. As próximas dicas podem ajudar nisso!
4. Afine a linguagem da comunicação ao público almejado
Em primeiro lugar, é fundamental que o vocabulário adotado esteja em sintonia com o público-alvo do seu candidato. Além disso, a construção de frases nunca pode ser longa demais ou usar ordens gramaticais invertidas, que exijam concentração para a sua compreensão. Por outro lado, o uso de chavões não cola mais: para vencer, o político também precisa de autenticidade.
5. Adeque a imagem visual do candidato
Na era do audiovisual, muitas vezes a programação de lives próprias dos candidatos complementa o curto tempo da propaganda eleitoral gratuita. Faça uso dos eventos virtuais com moderação – é melhor investir na estratégia de produção de alguns bons papos digitais do que marcar muitos encontros sem tanto público.
6. Atenção às novas regras de divulgação virtual
As novas diretrizes do ambiente digital trazem reflexos para a campanha política em redes sociais. Existem normas estabelecidas pelas próprias plataformas (por exemplo, o Facebook neste ano criou uma política que diferencia patrocínio em posts eleitorais e que requer autorizações e documentação, o que também é válido para o Instagram). Além disso, a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) requer adequações e maior cuidado com a privacidade.
Esses são apenas alguns tópicos referentes à nova intensidade das campanhas virtuais ou semipresenciais. É importante lembrar que o debate de ideias é a essência da democracia: não podemos desistir dele num tempo de tanta polarização ideológica.
Para terminar, não surfe nas ondas do pensamento da moda por receio de manifestar opiniões próprias – manter a coerência com o seu passado e os ideais do partido é fundamental.
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Silvana Piñeiro Nogueira é jornalista com 25 anos de atuação como assessora de imprensa, mestre em Estudos Políticos pela Sorbonne e pós-graduada em Marketing pela FAE Business School. Mora na Alemanha e administra a Smartcom Inteligência em Comunicação, com sede em Curitiba, que há 10 anos atua nas áreas de comunicação internacional B2B e política.