Cadê a rotina que estava ali? Por Luiza Vaz.

Lembro quando estava na faculdade e perguntavam porque eu havia escolhido jornalismo. Uma das minhas respostas costumava ser: ‘porque não tem rotina’. Achava que a vida de jornalista era tão dinâmica que não teria rotina e assim, sem tédio. Hoje, vejo o quanto era ingênua em pensar isso. Independente da profissão que escolhemos, por mais dinâmica que seja, teremos uma rotina. E isso é bom. Mas, por que falar disso agora? Bem, porque não temos mais aquela rotina do antes do COVID-19.

Se não temos aquela rotina isso é ótimo, não? Para alguns sim, principalmente os jovens que ‘torcem o nariz’ para ela ao associa-la a algo chato e tedioso. Mas para outras pessoas, como os idosos, não é nada bom não ter a tal rotina. Segundo o psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da USP, Christian Dunker, em entrevista à BBC Brasil, o idoso gosta da rotina porque ‘para eles assegura uma experiência de confiança no próximo capítulo’. Além disso, a rotina mantém o convívio social para os mais velhos e evita que eles se sintam solitários e deprimidos. Talvez seja a explicação do porquê dos idosos estarem mais resistentes ao isolamento social em ter que ficar em casa.

Mas, e agora que não saíamos mais de casa, cadê a rotina que estava ali? Bem, ela se foi. Mais uma perda que temos que lidar. Como Christian Dunker disse no webinar dado a Escola Gracinha – aqui (https://www.youtube.com/watch?v=7Wo32J-hw_I&feature=youtu.be) : ‘A rotina é um patrimônio simbólico. E rotina vem da palavra em francês rota, que significa caminho. Sem essa rotina acabamos ficando desorientados, mais cansados, menos concentrados’.

Na pandemia, temos a falsa impressão de que descansaremos mais por estar em casa e não ter rotina. Mas, engana-se. Em casa, podemos nos cansar mais pois além de não ter momentos de lazer com os colegas, ainda temos que cuidar das coisas da própria casa como: fazer almoço, cuidar do filho, cuidar do pet, lavar a louça. Infinitos afazeres. E ainda podemos perder o horário e trabalhar até tarde.

A verdade é que a rotina, por mais tediosa e monótona que seja, ou pareça ser para alguns, ela traz mais tranquilidade ao dia-a-dia. É como se nos ajudasse a lidar com as responsabilidades diárias. No próprio dicionário diz que rotina é: ‘o hábito de fazer as coisas sempre da mesma maneira, maquinal ou inconscientemente, pela prática ou imitação’. É um costume quase automático que não demanda muito esforço mental. Algo que fazemos repetidamente e que consequentemente nos dá mais segurança e calma. Diferentemente do que eu pensava aos 19 anos, a rotina é sim inerente a todos. Talvez ela seja mais uma ferramenta do bem do que um problema.

Luiza Vaz é jornalista graduada pelo Centro Universitário Uniceub, de Brasília e pós-graduada em jornalismo esportivo pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), de São Paulo. Nos últimos anos tem trabalhado com assessoria de imprensa e marketing de distribuidoras e exibidores de cinema multinacionais.