A espiral do silêncio, as pesquisas e a surpresa Gessy Fonseca. Por Ana Cristina Guedes.

A espiral do silêncio deu um banho nas pesquisas eleitorais divulgadas nas eleições municipais de Teresina, capital do Piauí. O resultado final da candidata a prefeita, Gessy Fonseca, que chegou a um terceiro lugar em um cenário em que as previsões ‘racionais’ dos institutos de pesquisa a colocavam longe dessa posição, mostra bem que a divulgação, especialmente na reta final das eleições, tem mais interesse em influenciar ou determinar o voto do eleitor do que mesmo mostrar um cenário sobre o que pensa e quer esse eleitor.

A verdadeira vitoriosa dessas eleições, sem dúvida, foi ela. E os que se consideravam ‘vencedores’ desse primeiro round que lutem, inclusive, pelo seu apoio no segundo. Gessy Fonseca é a bola da vez. Entrou no último minuto do segundo tempo em substituição a um candidato que, provavelmente, seria mais do mesmo nos ataques à atual gestão.

Outro ponto: ela sabia do que estava falando. Abordou um tema com conhecimento de causa e também amplamente atingido pela pandemia: o emprego e a geração de renda, o mercado de trabalho e, por fim, o empreendedorismo. Mulher, jovem (29 anos), empreendedora. Suas palavras não eram um discurso pronto. Era vivência pessoal, e ela soube comunicar isso no jeito de falar incisivo, desafiador e assertivo. Como dissemos por aqui: ela é danada!

Mas voltemos às pesquisas. Os candidatos gostam de dizer que as pesquisas expressam um momento. Não estão de todo errados. Mas precisam entender também que as pesquisas tentam projetar um futuro (que pode se confirmar ou não) com data definida: o dia das eleições.

É nesse ponto que quero chegar ao citar a teoria da espiral do silêncio, expressão criada na década de 70 pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann, que tenta explicar por que as pessoas evitam se posicionar sobre determinados temas por receio de como será avaliada quando comparada com a da maioria. Afora as perguntas prontas dos questionários de pesquisas eleitorais sobre ‘em quem você votaria ou não votaria para prefeito’, o eleitor também faz suas próprias considerações sobre temas e questões de interesse e abrangência social essenciais no debate político, para então fazer sua escolha. E cabeça de eleitor envolve outros sentimentos, especialmente quando o assunto é política. Só que isto não está nas pesquisas eleitorais, ao menos, não nas divulgadas nos meios de comunicação.

O resultado das eleições mostra que pesquisa de opinião pública não é absoluta. E não é porque a ‘opinião da maioria’ também não representa a opinião de todos. E no cenário político outros fatores também podem determinar a escolha do eleitor naquele momento mais importante das eleições: o dele com a urna. Uma coisa é a projeção futura, que as pesquisas tentam apontar; outra é o momento cara a cara com o botão de confirmar. Esse dia e esse momento são do eleitor.

Ana Cristina Guedes é jornalista, especialista em Comunicação Institucional e Comunicação Política, e Mestre em Comunicação com Fins Sociais pela Universidade de Valladolid, Espanha.