A culpa é da IA. Será? Por Andréa Campos.

Esses dias, lendo um artigo publicado por Miguel Lannes Fernandes sobre criatividade artificial, no qual ele apresentou alguns trechos da sua conversa com a creative coach ucraniana Sofiya Vetryakova, chamou-me atenção a seguinte abordagem sobre os riscos reais da Inteligência Artificial (IA): “o maior perigo não é a IA dominar o mundo, é a gente se perder no excesso de opções. A IA exige que tomemos mais decisões. E nosso cérebro cansa. Isso impacta diretamente nossa capacidade criativa”.

Existe o medo, ainda que discreto em alguns, de que a IA possa “tomar” seu lugar, espaço e oportunidades. Não adianta o leitor dizer que nunca pensou sobre isso! Cada profissional já se fez a pergunta de quanto seu emprego pode estar ameaçado.

Aliás, vivemos isso há décadas, quando as tecnologias começaram a ganhar espaço nas empresas e atividades. Tudo bem, até hoje muitos postos de trabalhos foram encerrados, mas muitos outros surgiram justamente para lidar com todo o aparato tecnológico.

Mas o que temos agora é algo que até então não era parte do dia a dia: máquinas falarem, pensarem e agirem por nós.

Vivemos a era da velocidade e o perigo é tornar-se ultrapassado. Assim, é preciso correr contra o tempo para se atualizar das mudanças e avanços proporcionados pela IA. E como tirar proveito da sua existência? Tudo isso exige respostas de modo muito rápido, pois a tecnologia muda e agrega novas funcionalidades a todo momento.

Isso realmente cansa!

Em meio a tantas opções, realmente, para que lado correr? Será que nossa capacidade intelectual está ameaçada?

Talvez a resposta ainda esteja amparada no mesmo diferencial de décadas atrás, quando as tecnologias iniciaram sua popularização: o humano sempre prevalecerá.

Pelo menos por enquanto, a IA depende de cada um de nós, da nossa inteligência, da nossa vontade e comando para executar boas criações.

Faça uma pergunta medíocre, a resposta será insatisfatória. Alimente a IA com conteúdo rico, as criações podem trazer ótimos benefícios.

Por exemplo, plataformas como o DALL-E, IA desenvolvida pela OpenAI, permitem criar imagens e ilustrações a partir de descrições textuais. Desse modo, um designer pode usar as sugestões geradas pela IA como ponto de partida, ampliando as possibilidades de inovação e usando o seu tempo para aprimoramento.

O melhor da IA vai depender de como ela for explorada. Com simples comandos ou apenas esperando que venha algo espetacular do nada, os resultados serão parte da “vivência” da IA, e isso certamente estará longe do potencial humano. Ela não pode gerar acomodação, pelo contrário, deve ser uma ferramenta para estimular ainda mais a criatividade de cada um. Afinal, como na automatização de atividades, ela pode liberar profissionais para usar o tempo em projetos e estudos que, normalmente, na correria do dia a dia, ficam trancados nas gavetas do cérebro.

Portanto, neste cenário em que estamos, o importante é estar ciente de que o maior risco é ficar parado e delegar a nossa criatividade exclusivamente às ferramentas de inteligência artificial. Embora elas possam trazer benefícios criativos, discussões importantes – como a questão da privacidade, a preocupação com a proteção das informações pessoais e o uso ético dos dados -, pedem o diálogo contínuo sobre como implementar a IA de maneira ética, garantindo que ela seja usada para o bem-estar coletivo, sem prejudicar a privacidade ou exacerbar desigualdades sociais.

A tecnologia da IA deve ser vista como ferramenta complementar e não como substituta da criatividade humana. Quando bem utilizada, pode liberar tempo para tarefas mais complexas. O entendimento de todo esse contexto dependerá de educação, atualização e exploração das possibilidades por parte de todos os trabalhadores, afastando o risco de delegar a ela a totalidade da nossa criatividade e pensamento crítico.

Crédito da imagem de chamada.

Andréa Campos é jornalista, pós-graduada em Comunicação e Mercados.