Tudo junto e agora.

Nesses tempos, surgiu uma propaganda na televisão em que uma moça perguntava: – Sabe o que eu queria? E aí, a pessoa com quem essa moça conversava, dizia assim: – Batom, pen drive, paz no coração… – sem deixar a primeira responder.  A propaganda é algo mais ou menos isso.

Não me lembro, ao certo, de qual empresa era essa propaganda. Mas chamou a atenção para a forma imediata como a mocinha “respondia” ao diálogo.

É evidente que poder expressar aquilo que se pensa é uma característica de nossa época, devido, principalmente, às inúmeras plataformas de comunicação existentes. E a comunicação do século XXI é um reflexo do ritmo ditado pelas possibilidades de se comunicar.

Observe sua atitude diante do seu celular. Quantas vezes você se direciona para o seu aparelho, ao longo de um dia, respondendo a notificações, chamadas, mensagens de torpedo ou whatsapp. A vida vibra a cada minuto!

E, nesse cenário, tudo parece muito urgente e necessário, como se fosse impossível deixar de ser acionado. Mas isso é apenas uma sensação e não precisa ser a realidade.

O que ocorre é que a sensação de que “é preciso responder aos chamados”, o tempo todo, acaba resultando na verbalização imediata daquilo que se está pensando naquele momento, como ocorre no comercial da televisão.

Imagine um cenário de uma grande empresa em que todo mundo tivesse a mesma postura de “reagir imediatamente” a um comentário? É claro que a propaganda da televisão tem um caráter metafórico e que as pessoas (ainda) não são assim. Mas, será que se está muito distante daquele imediatismo?

Essa maneira de se expressar sem um fôlego sequer para pensar é percebida dentro e fora das empresas. Muita gente quer dar sua opinião em poucos segundos. Particularmente, acredito que esse ímpeto de responder imediatamente, como se fosse um ninja da comunicação, possa até soar como algo primoroso num primeiro momento. Num mundo onde parece que o Google tem resposta para tudo, os diálogos imediatistas se mostram viáveis…

Mas, de verdade, qual é a qualidade desses diálogos? E qual é a qualidade de todos os demais diálogos pautados em respostas imediatas? Você ouviu o que foi pedido? Você entendeu o que a pessoa está falando? E você tem certeza, já, de sua resposta?

A meu ver, existem dois problemas no imediatismo: o primeiro deles é não ouvir o que está sendo dito ou perguntado, de fato. Isto não quer dizer que quem tem uma resposta na ponta da língua não tenha uma escuta ativa. Não é isso. Mas, a chance de você não estar “presente”, ouvindo as nuances de uma conversa, observando o tom de voz, as expressões de seu interlocutor, aumenta. O segundo problema é que, por mais que se tenha uma resposta, será que não seria melhor refletir, um pouco que seja, a respeito do que seu interlocutor disse? Alguns assuntos não precisam de resposta pronta, mas de observação, degustação, digestão.

Neste caso, caro leitor, nem o Google pode lhe ajudar.  Você terá que descobrir, talvez sozinho, as respostas que precisa para seus diálogos, fazendo uma observação de si e do outro com quem você conversa. E mais, com direito a dizer: – Não tenho resposta para o que está me perguntando. Vou pensar!

Porque, afinal, quem é que tem pronta resposta para tudo?

Link para a peça publicitária inspiradora desta coluna – https://www.youtube.com/watch?v=JGZsns_Vv6o