Ó ladroeira, por que estás tão triste. Por Carlos Brickmann.

A divulgação das delações premiadas dos diretores da Odebrecht tumultuou a estratégia dos políticos já condenados pela Operação Lava Jato, e por três motivos. Primeiro, porque confirma mais uma vez seu envolvimento em práticas sem amparo legal, no financiamento de campanhas, na estruturação do partido e na rápida ascensão das fortunas pessoais. Segundo, porque, embora toque também em dirigentes de outros partidos hoje no poder, deixa brechas para que se alegue que, nesses casos, tudo foi feito dentro da lei (quem levou os principais tiros foram políticos importantes, de alto escalão, mas que podem ser descartados e substituídos – o processo de fritura dos amigos, aliás, já começou). Terceiro, porque se esperava que as delações provassem que político é tudo igual, permitindo que se tentasse a libertação dos poucos presos diante da impossibilidade de investigar, julgar, condenar e prender as multidões de suspeitos de iguais crimes.

A estratégia dos condenados e seus aliados não está totalmente errada: suas diferenças morais diante dos demais delatados, se as há, são de gradação, não de comportamento. Mas, para efeito político, a gradação ganha força; e os crimes, digamos, menores, deixam de justificar os maiores. Mesmo assim, não há motivo para a tristeza dos corruptos já julgados. O Supremo não é um tribunal penal; dificilmente terá condições de julgar, em prazo aceitável, todos que caírem em suas malhas. Se a lei for mudada, para que ninguém deixe de ser julgado, os condenados terão boa chance de recorrer.

Para eles, talvez amanhã vá ser outro dia.

O Brasil, como é

Em seu depoimento, Marcelo Odebrecht diz que a empresa entregou ao PT, nos Governos de Lula e Dilma, um total de R$ 300 milhões. Destes, 150 milhões foram para a campanha de reeleição de Dilma. Mais R$ 50 milhões foram pagos para que o Governo Dilma editasse uma medida provisória modificando o Refis.

A medida provisória foi assinada por Dilma e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Marcelo Odebrecht disse que também repassou dinheiro a Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência, mas sem esclarecer se a doação foi legal ou para o Caixa 2. Citou um jantar com o vice-presidente Michel Temer, companheiro de chapa de Dilma, mas negou ter tratado de valores para a campanha. Pelo que disse, pode até ter prometido contribuir, mas os detalhes – quantia, modo de repasse – seriam tratados por outras pessoas. Segundo o advogado José Yunes, amigo de Temer, quem cuidava disso era Eliseu Padilha.

Opinião de jurista

Do portal jurídico Migalhas (www.migalhas.com.br), sobre o depoimento de José Yunes que aparentemente dinamitou o ministro Eliseu Padilha:

“De duas uma: ou alguns comentaristas políticos são ingênuos, ou são venais. Só isso explica a análise que fazem do depoimento espontâneo de José Yunes, aquele que confessou ter recebido o “envelope gorducho” do doleiro. Ninguém duvide, o que aconteceu é que ele teve acesso à delação (ou da Odebrecht, ou de Lucio Funaro, ou, ainda, de ambos) e se antecipou. Ou seja, criou sua versão para os fatos que inexoravelmente vão surgir. E mais, isso foi combinado com todos os partícipes. Fimdepapo.”

De volta…

Um grupo de 400 pessoas, que se apresentam como intelectuais, artistas e ativistas, fez um apelo ao ex-presidente Lula para que lance sua candidatura à Presidência da República em 2018, “porque é preciso incluir muita gente e reincluir aqueles que foram banidos outra vez”. Há alguns nomes já esperados – Leonardo Boff, Fernando Morais, Chico Buarque, Beth Carvalho; outros, menos militantes, mas tradicionalmente petistas – Marieta Severo, Dira Paes, Tássia Camargo. A partir do dia 6, segunda, o manifesto estará aberto a quem quiser aderir.
A razão do lançamento de Lula à Presidência é clara: se ele for preso, parecerá que estão tentando barrar sua candidatura. Mas Lula ainda não se manifestou.

… ao passado

Ah, Chico Buarque! Na opinião deste colunista, divergir das opiniões de Chico Buarque é uma coisa, deixar de admirar um dos maiores letristas que o Brasil já gerou é outra. Mesmo quem ache que Lula é a encarnação do mal absoluto deve evitar que sua repulsa ao político se estenda a seus seguidores; e lembrar que Chico tem obras notáveis no campo da música. Pois muitos anos antes da Lava Jato, em 1990, ele lançou a excelente “Vai Passar” (e foi dessa letra que o ótimo jornalista Augusto Nunes, que não compartilha nem de longe o pensamento político de Chico, foi buscar o “Sanatório Geral”, título de uma de suas colunas).
E veja esses versos, escritos no final do século passado, antes que alguém imaginasse que dirigentes partidários e empresários pudessem ir para a cadeia:

“Num tempo/ Página infeliz da nossa história, /Passagem desbotada na memória,/ das nossas novas gerações./Dormia/ a nossa pátria mãe tão distraída,/ Sem perceber que era subtraída/
Em tenebrosas transações”.

Acabou para você

No Congresso, o Carnaval não acabou. A folga só acaba na terça-feira.