O despertar dos canhões. Por Carlos Brickmann.

Quando uma esquadra britânica partiu rumo às ilhas Malvinas, houve especialistas em política internacional que apostaram numa solução pacífica do conflito com a Argentina. Mas nunca os ingleses despacharam uma frota, caríssima, sem que o final tenha sido a rendição dos inimigos ou a guerra. No caso, houve guerra (que levou ao final da ditadura argentina).

Ações de banditismo ou guerrilha no caminho da Europa sempre terminaram em guerra ou destruição dos bandos. A guerra traz resultados mais rápidos, permitindo o desmonte das quadrilhas. E os sucessivos atentados do Estado Islâmico e similares não levarão à vitória dos terroristas nem a anos de insegurança na Europa. O cheiro é de pólvora.

Quando os Estados Unidos se formaram, não se falava em forças de ataque. Mas os piratas berberes africanos tornaram a navegação um risco tremendo, com mortes, escravizações, sequestros. Não havia como combatê-los navio a navio: atacavam perto da costa da África, dominavam as presas e voltavam para seus esconderijos. Americanos e europeus agiram: os americanos primeiro, montando uma força de deslocamento rápido, os Fuzileiros Navais (em seu hino, fala-se das Praias de Trípoli); os franceses alguns anos depois, tomando toda a Argélia e anexando-a.

Quanto tempo a Europa irá suportar os atentados? A tese de que não basta matar formigas, e é preciso eliminar os formigueiros, significa guerra.

Enquadrando o alvo

A situação de hoje difere da que havia no século 19 – a começar pela presença de duas forças militares de porte, China e Rússia, cuja posição pode variar. Mas negociações existem para isso. A Ucrânia foi dividida apesar da oposição do Ocidente; a Líbia e o Afeganistão, destruídos apesar dos russos. E a Rússia, cheia de enclaves muçulmanos, sabe negociar.

Os príncipes falantes

Não, nada de imaginar uma delação premiada de Marcelo Odebrecht, o Príncipe dos Empreiteiros: ele até pode ser o porta-voz do grupo, mas eventuais confissões serão de toda a família e de toda a empresa. Basicamente, a Odebrecht vai revelar um dos grandes segredos dos Governos petistas, o esquema imaginado e implantado pelo então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

Segredo, aliás, que só existia para quem não leu o livro Assassinato de Reputações, do ex-secretário nacional da Justiça, Romeu Tuma Jr., com texto do jornalista Cláudio Tognolli: “A PF, como instrumento pessoal de pressão e intimidação”; “é o braço armado e indispensável ao projeto de poder”; a PF de Márcio Thomaz Bastos, “arrecadadora para o projeto do PT e sua equipe de arrecadadores”.

Nas revelações, é citado Naji Nahas como “um dos principais agentes arrecadadores de Marcio Thomaz Bastos”. Mais uma citação: “Naji Nahas era muito amigo da família Schahin e tentou intermediar um ‘acordo’ entre Lucio Funaro, a família Schahin e Eduardo Cunha”.

Aconteça o que tiver acontecido, da forma que tenha ocorrido, a Odebrecht sabe. E o revelará pelas seguras palavras de Marcelo Odebrecht.

O novo jogo

O PT sofre com boa parte dos quadros na prisão e uma das principais líderes, a Mulher Sapiens, afastada do poder. Mesmo assim, surpreendeu sua nova postura na Câmara: não lançou candidato à Presidência. Sempre ter candidatos era norma pétrea do PT, que chegou a lançar Eduardo Suplicy a prefeito de São Paulo mesmo sabendo que ajudaria o adversário Jânio Quadros. A situação do partido deve ser pior do que parece.

Dilma promete falar

Dilma Rousseff estava decidida a não decidir, exceto em cima da hora, se iria ou não ao Senado se defender na votação do impeachment. Aparentemente, mudou de ideia. Agora garante que irá ao Senado para se defender contra a perda de mandato. E mais: acha que terá votos suficientes para retornar ao poder. Se não os tiver, será uma queda sensacional. Se tiver, será possível repetir a seu respeito a frase do jornalista James Reston sobre Richard Nixon, eleito presidente depois de ter perdido até a eleição para o Governo da Califórnia: ‘É a maior ressurreição desde Lázaro”.

Os motivos de Dilma

A presidente afastada deve ter informações de que, se não for ao Senado, tomará uma surra ainda maior do que a esperada. Como estamos no 60º aniversário do lançamento de Grande Sertão: Veredas, nada como lembrar uma frase do autor, Guimarães Rosa, embora de outro livro, Sagarana: “O sapo não pula por boniteza, mas porém por precisão”. No caso, a precisão do pulo deve ser das mais precisas e necessárias. Um pequeno erro no salto talvez seja perigosíssimo: sabe-se lá onde batráquios desnorteados podem ir parar depois de um pulo mal dado!