Carlos Brickmann no OCI, 15/06/2015.

As aves que aqui gorjeiam.

O brasileiro é um povo cordial, ensinava em Raízes do Brasil o grande Sérgio Buarque de Holanda. Cordial e tolerante: a briga horrorosa que agora divide a família real espanhola jamais ocorreria neste país tropical, bonito por Natureza.

Pois não é que o rei espanhol Felipe 6º. acaba de cassar o título de Duquesa de Palma de Mallorca de sua irmã, a infanta Cristina? Punida pelo próprio irmão! Motivo: o marido de Cristina, Iñaki Urdangarin, antigo ídolo popular, foi acusado de fraudes fiscais. Cristina, veja só!, disse que não sabia de nada. Esta defesa, lá considerada ridícula, levou o rei a romper com a irmã e a tirar-lhe o título.

Povo feroz, este de Espanha. No Brasil, embora a lei determine que pessoas condenadas pela Justiça percam as condecorações que receberam, somos mais cordatos, somos um povo cordial: os ex-deputados José Genoíno, Valdemar Costa Neto, Roberto Jefferson e João Paulo Cunha, todos condenados no processo do Mensalão, todos enviados à prisão, continuam homenageados pela Medalha do Pacificador (referência ao Duque de Caxias), conferida pelo Exército. O ex-ministro e ex-deputado José Dirceu mantém a Ordem do Mérito Aeronáutico. Genoíno também recebeu a Medalha do Mérito Aeronáutico, quando já era processado pelo Mensalão; e, mesmo tendo cumprido pena, ainda pode usá-la no peito. E João Vaccari, o tesoureiro do PT preso em abril pela Polícia Federal, na Operação Lava-Jato, foi aplaudido de pé no congresso de seu partido.

Nosso povo é tolerante. Mas nosso país não deve ser uma casa de tolerância.

Vai, volta, repete

No Congresso do PT, Lula disse que o partido é achincalhado por setores da mídia, que praticam jornalismo marrom. O presidente do partido, Rui Falcão, diz que o domínio da mídia por alguns grupos econômicos tolhe a democracia. Dilma disse que tentam separá-la de Lula, mas não conseguirão.

O repórter Matheus Pichonelli (https://br.noticias.yahoo.com/blogs/matheus-pichonelli/) lembra: essas frases, iguais às de agora, foram ditas em novembro de 2011, no 4º. Congresso do PT, em Brasília. O partido falava em “ameaça à economia brasileira” e exigia que o Banco Central tomasse medidas ousadas para baixar os juros. De lá para cá, o Banco Central multiplicou os juros e Joaquim Levy, que Dilma foi buscar no Bradesco, é o responsável pela economia. A imprensa continua levando a culpa, Rui Falcão continua sendo o presidente do PT.

Não há o menor risco de dar certo.

Preções

A ata da reunião do Conselho de Política Monetária do Banco Central, Copom, prevê a alta de preços de alguns itens até o fim do ano: a gasolina deve subir 9,1%, a eletricidade 41%. O conjunto dos preços administrados (como água, telefonia, tarifas de transporte) tem elevação prevista de 12,7% neste ano.

Retrato da crise

O mais popular dos investimentos, a Caderneta de Poupança, perdeu R$ 32,28 bilhões nos cinco primeiros meses do ano. É o retrato sem Photoshop da crise: os pequenos poupadores estão retirando suas economias da poupança para enfrentar a inflação que cresce e eventualmente os períodos de desemprego.

A grande festa

Preocupar-se com preços em alta, salários em baixa e empregos em falta é para os fracos. Roberto Amaral, dirigente do PSB que ficou irritado quando seu partido saiu da base de apoio ao Governo Federal, ganhou de Dilma um cargo de conselheiro de Itaipu; mas, ao contrário do que se imaginava, os pouco mais de R$ 20 mil reais por mês não correspondem a uma reunião mensal. São 20 mil por mês para uma reunião de dois em dois meses. O PSB se irritou com Amaral, mas deixou pra lá: apenas pararam de convidá-lo para as reuniões, ao menos até que o caso seja esquecido.

E Amaral não é caso único: o Governo Federal tem 1.300 vagas em conselhos de estatais, para todos os bolsos. Há salários mensais de R$ 3 mil até perto de R$ 30 mil, para no máximo uma reunião por mês.

Parece brincadeira. E é

Um cavalheiro foi preso no dia 9 em São Paulo, transportando pouco mais de sete quilos de cocaína num carro roubado. Com ele, além da cocaína, foram apreendidos doze celulares, dois transmissores de rádio, documentos falsos e dois cadernos com anotações sobre venda de drogas. Sua identidade? A.R.A., informa a Polícia paulista. Seu prontuário: em 2005, participou do assalto ao Banco Central em Fortaleza, Ceará – aquele em que os bandidos perfuraram um moderno túnel para chegar ao cofre. Preso e condenado, recebeu um daqueles inacreditáveis indultos para uma saidinha no Dia dos Pais, em agosto de 2014, e esqueceu-se de voltar. Estava acompanhado por uma mulher, identificada como MAJC.

1 – Quando uma pessoa é presa, mesmo que seja para averiguações, mesmo que seja para interrogatório, seu nome é imediatamente divulgado. Por que ocultar o nome do cavalheiro que, num carro roubado, transportava cocaína?

2 – Como o referido cavalheiro foi condenado e preso, imagina-se que tivesse de estar preso. Se podia ficar solto, por que o prenderam? Se devia ficar preso, por que o soltaram, a pretexto do Dia dos Pais?

No Natal irão soltá-lo de novo?