"Os cães ladram, Sancho! É sinal de que estamos avançando". Cervantes.

Quixote e Sancho

“Rede Sustentabilidade e Partido Socialista Brasileiro decidiram, em 5 de outubro [data final para obtenção do registro do primeiro, que não veio], formar uma coligação política e eleitoral em torno de um programa para a disputa das eleições de 2014.

Ambos reafirmam a legitimidade da integridade e da identidade partidária do outro.

Nas circunstâncias criadas por recente decisão da Justiça Eleitoral, o caminho para construir essa coalizão é a filiação democrática e transitória das lideranças e da militância da Rede ao PSB. A filiação democrática e transitória é uma tradição brasileira nas situações em que correntes políticas são impedidas de se organizar formalmente e de participar com sua própria legenda dos processos políticos e eleitorais.

O objetivo central da aliança entre o PSB e Rede é aprofundar a democracia e construir as bases para um ciclo duradouro de desenvolvimento sustentável, os dois pilares da verdadeira soberania nacional.

A luta da sociedade brasileira tem alcançado importantes conquistas nas últimas décadas: a redemocratização, a estabilidade econômica, a redução das desigualdades sociais. A única forma de manter e aprofundar essas conquistas é avançar. Por isso estamos unindo forças para apresentar uma alternativa ao Brasil.

A convergência programática entre a Rede e o PSB, que será desdobrada num calendário apropriado, é uma contribuição para superar velhos hábitos e vícios da política brasileira.

Chegou a hora de a política ser colocada a serviço da sociedade e de o Estado ser finalmente comandado pelo povo brasileiro. É o início de um processo. A aliança entre PSB e Rede será construída de baixo para cima nas escolas, locais de trabalho, municípios, estados, no diálogo permanente e democrático com as organizações da sociedade. Este é o nosso compromisso.”

Acho importante essa novidade no quadro necrosado da política brasileira. Chacoalha tudo, tira as bundas coroadas das cadeiras, deixamos de ter um cenário polarizado há 20 anos, com o PSDB e o PT – cujo governo não tem quase nada a ver com o “PT de raiz”.

Nesse momento, o PT tem Kátia Abreu na base do governo (a senadora passou para o PMDB) e vai apoiar o filho do Jáder, no Pará. E Renan para o governo de Alagoas. Ou Collor. Até agora, é isso.

É bom quebrar situações estáticas. Pode ser até que a Dilma ganhe, mas ficou menos fácil. Abriu-se um braço à esquerda (e tem petista dizendo que o PSB é de direita… tem uma besta feito o Roberto Amaral, a favor da bomba atômica, é verdade, mas basta ler o programa do partido), mas o PSB tem se livrado dos seus direitistas, como o prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso.

Na mais recente pesquisa do Datafolha, concluída em agosto, Marina apareceu em segundo lugar, com 29% das intenções de voto. Campos saiu de 8% para 15%.

“Somos o primeiro partido clandestino criado em plena democracia”, discursou Marina na primeira coletiva que deu com Eduardo Campos. Ao mencionar as opções que teria discutido com os aliados, ela disse que rejeitou ideias como entrar num “partido de aluguel” ou abandonar a disputa eleitoral para se tornar uma “Madre Teresa de Calcutá da política”.

Pelo acerto entre eles, a Rede continuará atuando como grupo independente, apesar de não existir oficialmente. “Não sou uma militante do PSB, sou uma militante da Rede”, disse Marina, que tratou como “filiação simbólica” seu ingresso no PSB e se negou a fazer parte da direção do partido. Campos fez uma referência velada às pressões que sofre do PT para não se candidatar em 2014. “Aqueles que esperavam nos colocar fora do processo, e reduzir a participação da sociedade, hoje estão refazendo suas contas”, disse.

Coincidentemente, ou não, a grande tacada política foi concretizada no dia em que a Constituição de 1988 completou 25 anos. Quantas esperanças tivemos naquele momento para vermos, hoje, ¼ de século depois, apenas 47% da população com saneamento básico…

Marina diz que apoia Eduardo à presidência, mas ambos não quiseram fechar a chapa. Consta que, no primeiro semestre, quem estiver melhor nas pesquisas ganha a cabeça da chapa. A ex-senadora vetou o apoio do ruralista Ronaldo Caiado. Claro, é preciso um mínimo de coerência!

Sem essa de que novos projetos só podem vir e ser aceitos se vierem do PT. Isso aqui não é uma monocracia. Para ficar 20 anos no Poder, como sempre quis José Dirceu, o PT tem que voltar à ética que já teve. O próprio Lula, em entrevista, ontem, ao jornal espanhol “El País”, reconheceu que, depois de 33 anos, o PT absorveu vários defeitos dos outros partidos, inclusive a corrupção. Evoé! E fala do que eu chamo de “PT de raiz”, que nada tem a ver com o PT de hoje.

Viva a diversidade, em todos os setores, o político inclusive! Acho que este é o assunto mais importante no cenário. Houve uma virada de mesa e estamos diante de um quadro novo, que ninguém sabe onde vai dar.

Boa semana (que vai ser trepidante) para tod@s nós, com o leilão do pré-sal, que Dilma, candidata, já afirmou ser um crime… Tinha polícia à beça lá no Windsor Barra Hotel, esperando pelos manifestantes… 5 ficaram feridos e só houve um consórcio participando, do qual fazem parte Petrobras, Shell, Total e duas chinesas estatais. E Marina Silva acabou se posicionando “não favorável” (ou seja, contra) o casamento homoafetivo. Se deixar seu lado conservador falar, vai perder terreno.

[ ] Nota dos editores.

Sobre Marcia de Almeida

Jornalista, escritora, roteirista, videomaker e militante da cidadania. Carioca de Botafogo, e botafoguense de coração, escreveu 4 livros de ficção e foi por muito tempo correspondente internacional, quando cobriu a guerra da Bósnia. Integra a Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ e, assinou mensalmente, por dois anos, no Caderno RAZÃO SOCIAL d’O Globo, a coluna Razão & Cidadania, abrangendo temas relacionados a minorias: LGBTs, pessoas com deficiência, ciganos, racismo, vítimas de intolerância, preconceito etc.