Apartheid no shopping center!

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As imagens que ilustram este artigo representam bem que o Brasil, na verdade, continua um país racista e segregacionista.

A foto à esquerda foi tirada semana passada no Shopping Iguatemi, em São Paulo, quando jovens da periferia foram reprimidos por quererem fazer um flash mob dentro do shopping, também conhecido como “rolezinho”.

A imagem da direita é uma pintura retratando a época da escravidão.

Os “rolezinhos” foram permitidos quando os grupos eram de jovens brancos. Quando foi “rolezinho” da turma da periferia, houve balas de borracha, bombas de efeito moral, spray de pimenta. Num desses centros comerciais, só podia entrar quem recebia o OK depois de uma “revista” da PM.

Escândalo nas redes sociais: silêncio – praticamente – na mídia.

Passou-se a impedir menores de 18 anos andando juntos num dos shopping centers. Negros e pobres, evidentemente. É difícil imaginar o Shopping Iguatemi proibindo a entrada de “coxinhas” ou jovens filhos da classe média de darem um rolê nos seus corredores.

Como escreveu Maria Martín, na edição em português (de ontem) do jornal espanhol El País: “O fenômeno dos ‘rolezinhos’, com características similares aos chamados flash mobs (concentrações espontâneas de pessoas convocadas pelas redes sociais, em um determinado espaço, para realizar uma mesma ação) tem, como tantos outros na pauta do país, dividido a sociedade brasileira. Houve quem associasse a liminar dos shopping centers ao apartheid. Esses são os que defendem que adolescentes da periferia, na maioria negros cuja renda beira o salário mínimo (724 reais), estão colocando o foco na desigualdade entre classes, na opressão, incomodando os mais ricos que procuram – nos shopping centers – consumir com segurança e longe da realidade dos moleques. Do outro lado deste debate estão os que os chamam de vândalos. Defensores do espaço privado, ameaçados por um movimento sem lemas e sem objetivos claros, acreditam que toda essa energia e capacidade de convocação podem ser investidos em outras áreas; desde participar de protestos mais articulados, como os de junho passado, até procurar emprego”.

Um dos critérios de “seleção”: quem “tem cara” de frequentador de shopping VERSUS quem “não tem”.

Passou-se a discutir se os shopping centers, que entraram na Justiça para coibir o “rolezinho”, podem filtrar e selecionar seu público, sem que isso agrida a Constituição, que estabelece ser crime o racismo e que prescreve que “todos são iguais perante a lei”.

Discute-se, para variar, o fato e não o crime. Crime de segregação, de racismo e de estupidez social. Atinge-se o direito de ir e vir, garantido na Constituição, entre outros direitos (de pensamento, de expressão, de livre manifestação).

Mas a Justiça deu ganho liminar de causa a seis shopping centers paulistanos e eles terão o direito de escolher quem pode e quem não pode entrar.

É assim a nossa “democracia”.

E as secretarias de Direitos Humanos, mudas.

Sobre Marcia de Almeida

Jornalista, escritora, roteirista, videomaker e militante da cidadania. Carioca de Botafogo, e botafoguense de coração, escreveu 4 livros de ficção e foi por muito tempo correspondente internacional, quando cobriu a guerra da Bósnia. Integra a Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ e, assinou mensalmente, por dois anos, no Caderno RAZÃO SOCIAL d’O Globo, a coluna Razão & Cidadania, abrangendo temas relacionados a minorias: LGBTs, pessoas com deficiência, ciganos, racismo, vítimas de intolerância, preconceito etc.