Tristes constatações sobre o país e seu processo educacional.

LCL

“O Brasil não tem tradição forte de debate intelectual, por vários motivos.

Uma razão é que a universidade como grande centro de reflexão, uma tradição no Ocidente, é muito recente entre nós. Uma segunda razão é o analfabetismo generalizado. Fui posto para fora da universidade (Universidade do Recife, em 1964) pela ditadura porque trabalhava com o serviço de alfabetização de Paulo Freire, que, aliás, sofria oposição tanto da direita quanto do Partido Comunista. Penso que o problema hoje se alastrou, em vez de ter diminuído como apresentam as cifras oficiais, porque temos um analfabetismo alfabetizado, o que chamam de ‘analfabetismo funcional’. É um problema mais amplo do que se imagina, atinge até professores universitários.

Uma terceira razão é que dentro da própria universidade há um círculo vicioso de banalização: o professor, que já chega mal preparado, sofre pressões para entregar uma informação simplificada ao aluno, que só quer um diploma para ter um emprego no qual o seu analfabetismo funcional funcione.

Um quarto motivo é nosso compadrio, que se estende ao meio acadêmico e prejudica o debate público, os concursos e o ensino”.

Luiz Costa Lima, pernambucano, crítico e professor emérito da PUC-Rio, 76 anos. Entrevista publicada no Caderno Prosa & Verso, do jornal O Globo, em 08/11/2013.