Onírico Odorico.

Onírico

Odorico Paraguassú é personagem de Dias Gomes, naquela que talvez seja sua obra prima, a peça “Odorico, o Bem Amado ou Os Mistérios do Amor e da Morte” – uma recriação do Brasil como uma cidade – Sucupira -, de cultura patrimonial, provinciana, caudilhesca, machista e… apaixonante.

Imortalizado em telenovela, na década de 1970, pelo ator Paulo Gracindo, Odorico também foi vivido no teatro por Procópio Ferreira (1969) e no cinema por Marco Nanini (2010), e é uma caricatura dos “profissionais” da política brasileira. “Coronel” e prefeito sempre reeleito, Odorico precisa inaugurar o cemitério da cidade, mas a trama lhe entrega um desafio: ninguém morre na cidade durante os seus mandatos…

Esta situação, um maná para Dias Gomes exercer a sua verve crítica quanto aos – péssimos – hábitos político-administrativos brasileiros, faz surgir uma improvável (improvável?) aliança entre o prefeito e um bandido, Zeca Diabo – assassino “prometido”, vivido na telenovela de 1973, também magistralmente, pelo ator Lima Duarte. Assassino “prometido” foi porque nunca entregou a “encomenda” ao mandante… e o cemitério de Sucupira permanecia “nos antesmente da inauguração”, como diria a personagem… sem defunto…

Sucupira é aqui

Sem tirar nem por, até porque ambas as personagens tornaram-se bem-amados “heróis” nacionais, continua a ser encenada por aqui esta crônica: como engabelar o povo, desviando a atenção para “grandes obras” concebidas numa só cabeça, e, ainda assim, manter-se no poder. Uma historieta com a personagem realhttp://marcondes-at-blog.blogspot.com.br/2013/04/escandalo-filho-de-cesar-supera-o-pai-e.html

Na mesma edição do jornal O Globo (de ontem, domingo, 23/03/2014), “clipada” neste Nota do OCI, o editorial desvela que “… a manter-se o atual ritmo – a meta de saneamento ‘universal’ do país só será alcançada em 2050…”, uma espécie de recorde mundial de incúria, inoperância, promessas (que elegem, mas…) não cumpridas, descaso com a saúde (um pilar básico da civilização), corrupção de costumes, desvio de recursos e o enriquecimento ilícito de sempre.

Pois bem; está aí, de novo, a municipalidade fazendo promessas, mentindo descaradamente – e não mais só em discursos, mas com o requinte de imagens digitalizadas! Verdadeiras “pinturas” (se bem que do tipo em que o autor é um software), como se pode ver aí acima (clique nela e veja-a ampliada), de uma cidade de sonho, tão onírica quanto o realismo fantástico de Dias Gomes, onde uns homens voam e outros soltam formigas pelas ventas…

Onde fica este lugar tão limpo, plácido e pouco povoado da imagem? Deve ser ótimo estar “lá”…

Pior: a “grande” mídia reproduz essa “divulgação”, num clássico de propaganda enganosa. E do tipo caro, sempre às custas do contribuinte.

Mentiras institucionais

O OCI fará uso do arcabouço jurídico-legal para arguir essas “mentiras virtuais” proferidas por instituições contra a população crédula na linha daquela verdade que seria inquestionável porque “deu no New York Times” – vaticínio do Henfil. Comunicação institucional que engana, omite informação e induz o cidadão a erro de julgamento pode ter seu responsável técnico enquadrado, punido, demitido. Há legislação para isso. E o OCI não se furtará de acioná-la junto ao Ministério Público. Na defesa da cidadania. Na defesa da informação fidedigna. Na defesa da transparência de entes públicos, privados e das organizações do terceiro setor cujas ações tenham repercussões sociais relevantes e demandem esse direito-dever, um requisito tão fundamental quanto recusado no Brasil de hoje.

Um outro exemplo – de mentira que repetida mil vezes quer-se tornar verdade – é a “marca” NOVA Cedae. Nova por que? Desde quando? Como? Saiba mais sobre em http://oci-rp.blogspot.com.br/2013/08/cedae-pessimo-exemplo-de-comunicacao.html

Paisagens bem-acabadas pelo Photoshop é que “venderam” o Rio de Janeiro para a Copa e as Olimpíadas. FIFA e COI – parece – deixaram-se convencer mais por filmetes de propaganda do que por auditorias in loco. Como ficarão os incautos que virão ao Brasil por acreditar nas diáfanas projeções das agências de viagens “credenciadas”, “exclusivas” – todas elas “detentoras” das mesmas fotos manipuladas e o mesmo discurso de “já ganhou” do Brasil no torneio de simpatia internacional. E as muito reais aglomerações bárbaras das tardes de domingo no entorno do estádio do Maracanã? Sumirão como num teclar de “delete”? E os trens-fantasmas da SuperVia – edulcorados nos banners e folders? Como encará-los de verdade?

Com a palavra o capo Marin e o czar Nuzman.

A seguir, outros exemplos de miragem nefasta dos mesmos produtores desta #CIDADE_MARAVILHA_PURGATÓRIO_DA_BELEZA_E_DO_CAOS!

1) http://oci-rp.blogspot.com.br/2013/05/propaganda-para-que.html

2) http://oci-rp.blogspot.com.br/2013/06/e-eles-fizeram-de-novo.html

3) http://oci-rp.blogspot.com.br/2013/06/saudades-do-brasil-do-jornal-do-brasil.html

Saiba mais em

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/posts/view/anuncio_camaleao_torna_ainda_mais_dificil_separar_informacao_e_publicidade

http://www.jornaldigital.com/noticias.php?noticia=36707

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).