Jornalismo preguiçoso.

JT

Marco de Cardoso, professor, pesquisador, publicitário e jornalista especializado em TV, conta sempre, em sala de aula, a seguinte historieta pedagógica:

“1. O repórter foi assistir a peça “Rei Lear”, de Shakespeare, gênio, presentemente em cartaz com Juca de Oliveira em monólogo, e faz sua matéria no caderno de entretenimento; 2. O leitor gosta da matéria e compartilha em seu blog que a montagem é ‘genial’; 3. Um seguidor do blog compartilha o ‘post’ em sua Fan Page no Facebook sobre ‘arte & criatividade’ e diz que o gênio é Juca; 4. Um fã do blogueiro descobre que seu amigo comum também segue a ‘Fan Page’ e comenta a participação do ‘genioso’ Juca de Oliveira na última edição do programa ‘Starte’, de Bianca Ramoneda, na Globo News; 5. Um telespectador assíduo do programa ‘tuíta’ que um ensandecido Juca de Oliveira também participou do programa ‘Roda Viva’ e é ‘anti-Dilma’…; 6. Um eleitor de Dilma reclama e diz que ‘celebridades deviam manter-se neutras’ porque influenciam pessoas a partir de seu estrelato e não de sua conduta política, ‘para cá ou para lá’; 7. Um eleitor de Aécio vê o tal ‘post’ na sua própria ‘timeline’, compartilha o vídeo do programa da Cultura, e conclui escrevendo em MAIÚSCULAS na sua página ‘Volta, Juca, ao MinC’: “o autor dessa peça – que se acha genial – deve ser um reacionário e nunca poderia receber incentivos do governo. Por isso vou criar uma petição no Avaaz; ‘MinC – diga não ao coxinha Geraldinho Carneiro’; 8. Abordado sobre a questão na passeata ‘Legalize’, Carlos Minc declarou que ‘… isso deve ter sido publicado fora de contexto…’.”

Moral da estória: Jornalismo é coisa muito séria.

Aliás, Marco de Cardoso:

1) Esclarece, via e-mail: Salve Marcondes! O nome do crítico teatral,poeta e tradutor polonês de que falei hoje é Jan Kott (1914-2001). Ele foi um estudioso da obra do bardo inglês e teve um de seus livros publicados no Brasil, “Shakespeare nosso contemporâneo” (São Paulo: Cosac Naify, 2003). Kott, que foi professor em Yale e Berkeley, proferiu a frase que comentei contigo, sobre Shakespeare… “um autor que tinha os olhos nas estrelas, os pés na lama, e uma adaga na mão”. E só mais uma coisa, que esqueci, se for citar o Geraldo Carneiro no seu texto, ele detesta ser chamado “Geraldinho”… rs. Abs, Marco.

Tarde demais, caro Marco… lá já está, no post, consignado… “Geraldinho”.

2) Manda-nos este clipping (da Folha de S. Paulo) – http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2014/11/1545237-metade-dos-calouros-da-usp-esta-entre-os-20-mais-ricos-do-brasil.shtml.

COMENTÁRIO

Imagine um repórter perguntando a James Taylor (foto) se ele não se incomoda em cantar, de novo, Fire and Rain… https://www.facebook.com/video.php?v=704081016308435&set=vb.323825217667352&type=2&theater

“Celebridades” formam opinião no Brasil. No mundo. Eu sou do tempo em que celebridades eram Ruy Barbosa, Oswaldo Cruz e Oscar Niemeyer – indivíduos que se tornaram célebres pelo que tinham no cérebro.

Oxalá aqueles que formam sua opinião a partir do que pensa a “celebridade” Rodrigo Amarante, internalizem esta sua fala.

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).