Entrevista com Gary Hamel sobre gestão, hoje – “O que importa, agora” (*).

COMENTÁRIO DO OCI – Marcelo Ficher

Tato: sentido ainda a ser desenvolvido pelas pessoas… jurídicas.

As proposições do entrevistado são muito oportunas, principalmente porque desconstroem esse mundo ainda afeito a manuais e cartilhas, típicos da Administração no século XX.

O importante nesses instrumentos de referência era serem aplicáveis a todo o universo de pessoas envolvidas numa operação empresarial. A tônica era a impessoalidade.

O que salta aos olhos, na entrevista, é a recuperação do diálogo, da conversa e da controvérsia, agora reintroduzida não como elemento conflitante, mas como impulso a um “fazer diferente”, matéria-prima da inovação.

A comunicação interpessoal, direta, “aproximativa” – que passou algumas décadas na segunda divisão da Administração – volta a ter relevância. Nas Relações Públicas, em particular, esse tipo de comunicação sempre teve sua importância relativa, e avançou mais com o surgimento da Auditoria de Opinião – tática baseada em entrevistas, de profundidade, individuais, da revalidação da “experiência” de cada um como modo de entendimento do mundo (lembremos as técnicas “japonesas” de gestão de pessoas), ao invés da informação pura e simples. (**)

Estritamente no campo da comunicação profissional, isso significa apostar na comunicação dirigida, no atendimento individualizado das necessidades de cada um, no trabalho, para poder extrair a visão única do negócio que cada um representa, obtendo o melhor de cada pessoa engajada numa operação organizacional.

Talvez esteja surgindo o conceito de “Diversidade Corporativa” – se alguém já usou a expressão, perdoem-me, não registrei –, em que o corpo de colaboradores contém em si um extrato elástico dos tipos humanos que estão na outra ponta dos negócios, como consumidores. Ou seja, quanto mais heterogêneo o grupo, melhor, o que é uma novidade.

A diferença para o período anterior, na Administração, em que se valorizava ao extremo as relações humanas, é que a mediação da internet ampliou essas possibilidades ao infinito. Antes, não era fácil acessar o “colaborador” fora do ambiente de trabalho. Agora, o segredo é saber selecionar, pois tudo acontece ao mesmo tempo, agora – trabalho, lazer, relacionamentos afetivos (à la Domenico de Masi). Ou seja, todo mundo pode ser e dizer o que quiser. E nós, gestores, precisamos ouvir, interpretar e agir com base nas lições aprendidas.

Em termos de públicos, houve uma aproximação brutal entre o “geral” e o “dirigido”, específico. E ambos, conectados, exigem muito mais das organizações.

Havia, antes, uma importância muito grande em se saber se a organização era mais aberta ou mais fechada, mas os grupos também eram circunscritos pelas condições “técnicas” de estabelecimento de contatos interpessoais. Isto acabou, e é a noção de “público” que está em aberto. E a empresa, ou está “por dentro” do público, com ele, por ele, nos tempos e nos espaços… ou está fora do jogo.

E não é apenas uma questão de conexão no mundo virtual, é também de presença no mundo real, oferecendo visibilidade ao que é “feito à mão”, pelo trabalho.

A autopromoção, a propaganda maravilhosa na TV, os anúncios de página inteira em jornais e revistas, agora, mais que do nunca, precisam ratificar uma contrapartida palpável e proporcional às pessoas.

No capitalismo recente (tardio, diriam alguns economistas), as empresas têm que mostrar trabalho para sobreviver, e são vigiadas 24 horas por dia. Cada escorregão é potencialmente um grande problema – acabamos de testemunhar o caso em que um mero e-mail atormentou a vida pública da, até então, “mais admirada” Livraria Cultura.

Administrar, no século XXI, requer muito tato.

(*) What matters now – novo livro de Gary Hamel, cujo lançamento motivou esta entrevista à Globo News.

(**) Estilo “japonês” de administrar: conjunto de ações integradas implementadas e utilizadas na reconstrução (pós-guerra) do Japão, concebidas por dois cientistas estadunidenses: W. Edwards Deming (1900-1993) e Joseph M. Juran (1904-2008).