A clássica - e perpétua - falha na comunicação eleitoral... e, depois, governamental.

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Muitos partidos querem o seu voto. Mas… poderá você ‘casar-se’ com todos? [Texto publicado no jornal ‘Toda Palavra’, número 7, edição de setembro, pág. 3].

E a panelada de sopa de letras das coligações político-eleitorais azeda geral com a comunicação audiovisual. Os cobiçados segundos – principal razão das ‘coalizões’ – colocam ‘no ar’ o absurdo do sistema eleitoral brasileiro – legislação inclusa. Figuras bizarras parecem gozar de nós, eleitores, preguiçosamente instalados no sofá. E o febeapá(*) das eleições proporcionais à vereança se imiscui no pleito para os Executivos municipais.

A comunicação radiofônica – por exemplo – chega às raias do ridículo, pois o tempo para dizer as siglas dos partidos ‘coligados’ é quase do mesmo tamanho das propostas… mínimo. Se fosse obrigatório mencionar o nome todo das agremiações partidárias, nem o tempo inteiro das inserções seria suficiente. Mas se é assim, é porque a Justiça Eleitoral o prescreve e o permite – o que é, convenhamos, ridículo maior. O rei está nu… mas ninguém denuncia o fato.

Ouça as inserções na Band News Fluminense FM (94,9 MHz). Sendo uma emissora fluminense, e não só niteroiense, a audiência carioca da emissora é majoritária e, ao ouvir as inserções musicais insistentes que se apoiam no mote ‘… é cidade limpa’, pode até pensar que se trata de um anúncio da Comlurb. Não é.

Esta semana, a propósito, tanto PSDB quanto PMDB admitiram – em mais de um momento capturado pela mídia – que o maior desafio do Governo Temer é a comunicação.

Não foi diferente em governos anteriores. A comunicação institucional de governos tem sido péssima.  E a julgar pelos verdadeiros desastres que são, hoje, tanto a comunicação dos governos tucanos – do Paraná e em São Paulo –, quanto a dos peemedebistas – no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul –, tal desafio ainda não será vencido neste mandato.

Esperemos 2018 – a profissão do brasileiro que não desistia nunca, mudou, de ‘esperançar’ por simplesmente esperar e esperar e esperar – para ver se governos – qualquer um deles – aprendem a comunicar-se adequadamente com a cidadania.

E a senadora Marta Suplicy (eleita pelo PT, mas agora no PMDB) expressou em sua inteireza – em entrevista ao jornal O Globo, na edição de 09/09 –, a mazela da política brasileira:
“… As pessoas não estão mais interessadas em partido. A população está desacorçoada, e eles falam ‘eu voto em você porque você fez pra gente’… eu não considero mais este nome… ser de esquerda… não significa muito nesse mundo… acho que o povo já esta’ acostumado com essas idiossincrasias da política… infelizmente, o Brasil tem tantos partidos que essas alianças acabam aparecendo”. Febeapá perde.

(*) FEBEAPÁ – Festival de Besteira que Assola o País, obra de Stanislaw Ponte Preta (1966).

NOTA metodológica: transcrevemos abaixo o texto das inserções de 30 segundos – aquelas que mais se repetem ao longo de todos os dias na programação radiofônica em horários eleitorais ‘gratuitos’. A escolha dessas inserções não é aleatória. As campanhas escolhem-nas para ‘martelar’ ouvidos e mentes. Não por outro motivo foram escolhidas pelos partidos as inserções não faladas, mas musicadas e cantadas – os famosos ‘jingles’ de campanha, e o O.C.I. resumiu – em uma linha – o que entendeu como ‘mensagem’:

Texto (cantado) da candidatura de Felipe Peixoto:

Felipe
Felipe é 40
Felipe é do bem
Felipe conhece
Felipe prefeito é cidade limpa
Felipe é 40
Felipe é do bem
Felipe conhece
Felipe prefeito é cidade limpa
Propaganda eleitoral gratuita, Lei 9.504/97
Coligação ‘Niterói do futuro’
PSB, PSDB, PTdoB, PSDC,
PTC, PPL, PMN, PSD,
PROS, PSC

Nossa análise: Comunicação próxima de zero – única informação é o ‘slogan’ – ‘cidade limpa’.

Texto (cantado) da candidatura de Rodrigo Neves:

É um cara consciente, sério, muito eficiente
Pra ele bom é pouco, ele só quer o melhor
Tá cedo no batente, é novo, mas experiente
Ama essa cidade, conhece de cor
Pra seguir em frente vamos outra vez de Rodrigo Neves, de 43
Pra seguir em frente vamos outra vez de Rodrigo Neves, 43
Propaganda eleitoral gratuita, Lei 9.504/97
Coligação ‘Para seguir em frente’
PV, PDT, PC do B, PTN, PRB, PT,
PSL, SD, PTB, PMDB, PPS, PP,
PRP, PEN, PMB, PRTB, REDE,
DEM, PR

Nossa análise: Comunicação próxima de zero. Informação idem.

Texto (cantado) da candidatura de Flávio Serafini:

Sonhei uma cidade diferente
Acordei, estava tudo em seu lugar
Juntei meu sonho com o de muita gente
Senti que é possível transformar
Agora é hora
Flávio Serafini, 50, e outra história
Agora é hora
Flávio Serafini, 50, é outra história
Propaganda eleitoral gratuita, Lei 9.504/97
Coligação ‘Mudança de verdade’
PCB e PSOL
Análise: Comunicação próxima de zero. Informação idem.

Candidatura de Dani Bornia (PSTU)
(Até o fechamento da edição do jornal, o ‘Toda Palavra’ não havia recebido o material desta campanha).

Mais sobre o tema no texto de Dora Kramer (n’O Estado de S. Paulo de hoje) – http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,a-inocente-util,10000079582

Manoel Marcondes Machado Neto é doutor em Ciências da Comunicação pela USP e
diretor-presidente do Observatório da Comunicação Institucional.

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).