Queda no setor automotivo leva agências a repensarem os formatos de propaganda para esse mercado. Por Carlos Müller.

Para retomar a atenção e o consumo por parte do público jovem, montadoras passam a investir mais recursos em tendências do cenário digital.

Foi-se o tempo em que o sonho de todo jovem brasileiro era completar 18 anos e tirar a carteira de motorista, a tal CNH. Dirigir e ter o carro próprio eram símbolos de independência e status social. Um sentimento ímpar de realização pessoal. Porém, durante a última década, esse desejo vem sendo substituído por outros tipos de bens de consumo, duráveis ou não. Profissionais da área de marketing automotivo já perceberam essa mudança no comportamento do consumidor, pois o reflexo disso tudo é a contínua estagnação nas vendas de carros.

Pesquisadores atrelam essa reviravolta a diversos fatores como a globalização, o avanço acelerado da tecnologia, a facilidade de compra e crédito e o aumento de poder aquisitivo da classe C (que possui outros desejos que vão além de dirigir). Por isso, as grandes montadoras têm apostado cada vez mais em propaganda de nicho através de plataformas digitais.

Segundo reportagem publicada em dezembro de 2016, na revista AutoData, especializada no segmento, o desejo do jovem brasileiro vem migrando principalmente para bens de tecnologia e viagens para o exterior. O sonho de ter um carro ao atingir a maioridade caiu do 1º. para o 2º., 3º. ou 4º. lugar na mente do consumidor. Pesquisa da Ipsos Brasil, empresa de inteligência de mercado, aponta a queda de 13% na emissão de CNHs no Brasil, de 2014 para 2015. Hoje, a idade média dos novos condutores passou de 18 para 27 anos.

“O carro ainda diz muito sobre a pessoa, onde ela está inserida, como se locomove.” – diz João Ciaco, diretor de publicidade da Fiat Chrysler Automobile em entrevista para a revista AutoData.

Concessionárias e montadoras estão atentas a esse comportamento e vem utilizando as redes sociais como meio para atingir o público jovem. As agências de publicidade, ou profissionais de comunicação organizacional, têm trabalhado na customização da propaganda, baseados no conceito de marketing 3.0. Ou seja, as campanhas de divulgação são direcionadas aos interesses do ser humano, do indivíduo, de acordo com suas características e gostos particulares. O consumidor encontra aquilo que ele quer encontrar, de forma menos abusiva. O número de versões de peças publicitárias produzidas para uma campanha de lançamento de produto passou de 3 para cerca de 300.

Nesse novo cenário da propaganda, o carro vira personagem em meio a situações que transitam as mentes dos jovens que utilizam as plataformas digitais. Há uma sincronia entre o lançamento de veículos e o lançamento de filmes, games, músicas ou qualquer assunto da moda. São contratados influenciadores da rede para participar de campanhas e para fazer transmissões ao vivo de test-drive através de suas páginas no Facebook, Instagram, Twitter, Snapchat, YouTube e Blogs. Essa estratégia tem se mostrado bastante eficaz para atingir um público mais pontual, com potencial de compra e engajamento com a marca automotiva.